Filosofia do Kung-Fu

segunda-feira, 20 de setembro de 2010.
A FILOSOFIA DO KUNG-FU

A filosofia encontra-se ligada à ciência de duas maneiras: Ela procura encontrar uma justificação para algo, antes de a ciência ter para isso desenvolvido uma lei inabalável, e insere os resultados da ciência numa imagem do mundo fechada em si.

A filosofia, oriunda da Grécia clássica, é o amor pela sabedoria, pelo conhecimento ou pela verdade. Ou muito simplesmente: é o esforço para compreender algo.

A prática do Kung-Fu desenvolve paciência e capacidade para se impor e contribui, através dos exercícios físicos e mentais, para o auto-desenvolvimento. Mas como transpor esta lição para o quotidiano, a casa, a escola, o trabalho e os tempos livres? No fundo, o Kung-Fu começa, entre os chineses, em casa, no círculo familiar.

Os chineses consideram que o desenvolvimento e a aprendizagem das relações entre pessoas podem ser encontrados no seio da família. Numa família com pais, filho e filha, encontramos as seguintes relações:

pai - mãe
mãe - filha
filha - filho
filho - mãe
filha - pai
pai - filho


Estas relações são geridas por um código de honra, que procura ensinar o respeito, a modéstia, a lealdade, a confiança e a honradez.

O respeito começa na mãe e no pai, cuja opinião se honra e se aceita. O casal traz as forças elementares do feminino e do masculino para o casamento. Só quando damos o nosso melhor é que um casamento terá sucesso e será harmonioso.

Quando nascem filhos numa família, deve ser-lhes transmitido o respeito pela mãe e pelo pai por palavras e actos de modo natural e pela experiência que a vida dos pais demonstrou, isto é, pelos conhecimentos da vida terrena e da vida para além da morte.

Quando há falta de respeito por um membro da família mais idoso, é recusada a necessária consideração de toda a geração mais antiga, na vida quotidiana - sejam eles pais, superiores, professores ou treinadores. Uma vez que quando há falta de respeito, também se não aceita a experiência dos pais, o processo de aprendizagem torna-se mais difícil (por exemplo, a matemática na escola, a carreira profissional ou os pormenores das técnicas do Kung-Fu).

Procuramos dar ao processo de aprendizagem um sentido mais profundo, humano e pessoal do que a busca de dinheiro e de glória. Esforçamo-nos por alcançar algo mentalmente exigente, como por exemplo, a melhoria das condições de vida das gerações vindouras.

Sem respeito não existe modéstia, empenho, exigência no seio da família ou na vida. Sem modéstia depressa nos contentamos com sucessos físicos ou materiais fáceis e perde-se a capacidade de acreditar, de procurar e de ambicionar algo mais elevado na vida.

A família desenvolve o sentido de lealdade à tradição e à cultura. A detenção e transmissão destes princípios tradicionais e culturais ajudam a família ao longo de muitos séculos a manter a sua individualidade e os seus ritos familiares pessoais.

Pela lealdade demonstra-se a seriedade, honradez e carácter, que gera uma sensação de confiança.

Quando uma criança demonstra bom carácter em relação a outras pessoas, estas confiarão nela.

Através desta confiança que lhe é dirigida, a criança esforçar-se-á por se manter no caminho da rectidão e de permanecer na busca da verdade durante a sua vida.

Se este tipo de educação começar na casa paterna, o resultado será uma sociedade sã, possibilitada por famílias íntegras.

Fora da família, o Kung-Fu é considerado pelos chineses como a grande lição da vida.

O respeito é também o princípio básico da arte marcial chinesa. Mas o respeito pode ser demonstrado de muitas maneiras diferentes. A forma mais primitiva de demonstração de respeito baseia-se na dor e no medo que controlam o aluno.

Esta arte remonta ao passado, a um tempo em que o homem ainda só pensava na sua sobrevivência; num tempo em que não existia nada mais importante do que a autodefesa contra inimigos e contra a natureza. Mas os tempos mudaram.

Hoje não só damos valor à força física, como também valorizamos o controlo físico, a forma e a beleza da exibição. Se o respeito se baseia apenas no saber técnico e se descura o desenvolvimento espiritual, gera-se uma atmosfera de "eu-sei-mais-do-que-tu". Os melhores alunos podem tornar-se arrogantes e petulantes, baseando-se nas suas capacidades físicas, pois haverá sempre melhores e piores. Só que estes heróis sofrerão um sério revés, quando, mais cedo ou mais tarde aprenderem a desagradável lição de que haverá sempre alguém maior, mais forte ou mais rápido do que eles. Na filosofia do Kung-Fu o respeito na forma mais pura encontra a sua justificação no respeito que se tem por si mesmo; de que se fez algo de produtivo, para, e em conjunto com, os outros homens.

A auto-afirmação não deveria apenas resultar dos sucessos pessoais de cada um de nós, mas também do facto de transmitirmos o nosso saber e ajudarmos outras pessoas a ter sucesso.

A mais elevada forma de progresso não é olhar para a forma como se progride pessoalmente, mas para as ideias que contribuem para o desenvolvimento da totalidade de uma coisa.

Aquilo que quero sublinhar é que o respeito não deve ser construído com base na divinização de ídolos. Não devemos deixar-nos colocar num pedestal, nem nele colocar outro alguém, e depois projectar sobre ele aspirações, que na maior parte das vezes ultrapassam a sua dimensão.

Esta divinização pode facilmente degenerar em desilusão quando o ideal que se criou não realiza as aspirações que para ele se projectaram. Considero ser importante compreender que as pessoas que se desenvolveram a um nível elevado, são apesar de tudo indivíduos, que cometem erros, que perdem a paciência e que tomam decisões erradas, pois ninguém é perfeito.

Num mundo sem respeito, em que só existe a exigência de uma supremacia física, as artes marciais não passam de uma forma primitiva de agredir e dar passos, sem dignidade humana e sem a vontade de alcançar algo espiritual.

A busca constante de algo mais elevado do que satisfação através de sucessos físicos ou materiais significa possuir e reconhecer a modéstia de saber que não dispomos continuamente de capacidades e que não devemos desistir de nos aproximarmos o mais possível da perfeição. O respeito e a modéstia são os princípios da aprendizagem. Se um aluno ficasse satisfeito com o que sabe, desistiria de aprender e de evoluir.

A lealdade no seio da escola do Kung-Fu pressupõe fidelidade à arte de luta que se escolheu, o que significa aprender a diferenciar as técnicas tradicionais, que provaram a sua eficácia, de outros estilos de luta. Significa também sentir a responsabilidade de divulgar honrosamente e ensinar esta arte. A confiança durante a prática é desenvolvida numa atmosfera em que cada tipo de conhecimento é divulgado para progresso e uso de todos os alunos da escola.

O contrário, ou seja omitir ou esconder para si só os conhecimentos por puro egoísmo, constitui um impedimento ao progresso: seria colocar-se a si próprio a um canto escuro e solitário, sem beneficiar da troca de experiências, tão importantes para o nosso desenvolvimento e compreensão.

O Kung-Fu é a arte de misturar tradições antigas com ideias novas e não uma repetição das antigas.

O Kung-Fu significa trabalho árduo, aprendizagem cuidadosa e habilidade para o treino, mas sem lesar ninguém por divertimento. Contar apenas com a supremacia física não chega para se ter sucesso. Tem de se aprender a reconhecer caminhos mais promissores e a confiar em pessoas qualificadas.

Avancemos um passo e tentemos desenvolver uma personalidade produtiva e bem sucedida, partindo das características que referimos anteriormente (lealdade, confiança, etc.), capaz de tirar da vida, e a ela levar, experiências positivas.

Mas como transformar a vida numa experiência positiva? Temos de aprender a utilizar o nosso idealismo, a nossa energia, a nossa fantasia e o nosso gosto pela aventura, para fazer face às exigências da vida. Nem todos possuímos um talento inato para tal, mas a partir dos ensinamentos do Kung-Fu podemos conseguir um desenvolvimento contínuo, pessoal, físico e mental, que pode vir a influenciar todos os pensamentos e as acções do quotidiano.

No inicio utilizamos o nosso corpo como modelo de desenvolvimento da consciência e de aprendizagem do espírito. Sem conhecer as capacidades do próprio corpo, não se pode compreender o meio envolvente.

Esperamos que bloqueios, posições, golpes e passos se constituam em exemplos pessoais de aperfeiçoamento desta consciência. Não queremos permanecer num plano mecânico animal, no qual se é apenas um robot ou uma imitação primitiva de um ser humano.

Pelo desenvolvimento da força de vontade, da determinação, da paciência, da resistência e da coragem temos de aprender a treinar o nosso espírito.

A força de vontade controla e canaliza a energia do homem, mesmo em momentos de tristeza, dúvida ou indolência. A paciência e a determinação fortalecem o espírito quando esgotado.

A resistência é energia acumulada, que alimenta o corpo quando ele está cansado e dói.

A coragem é o oposto do desânimo: ter a coragem de lutar nos momentos bons e maus da vida.

Coragem significa: continuar a manter as forças, mesmo contra o próprio medo, que pode ser:

* medo de falhar;
* medo de se magoar;
* medo de ser amesquinhado;
* medo da mudança;
* e mais raro, até o medo do sucesso.

Para ultrapassar o medo, tem de se ter controlo sobre a própria vida. Que melhor começo do que obter primeiro o controlo do próprio corpo? A linguagem do corpo é um reflexo do "eu". Um pensamento descontraído e fluente permite que o corpo se movimente de maneira mais ritmada e fácil. Quando se pratica o Kung-Fu, deve tentar-se alcançar isto mesmo. A rapidez e a forca vêm por si sós, quando os pensamentos e os movimentos fluem e são seguros. O medo desaparece quando vivemos intensamente e acreditamos que tudo o que fazemos é interessante e importante, Temos de adoptar um papel activo, aprender com os nossos próprios erros e fraquezas, desenvolver confiança em nós mesmos a partir das nossas experiencias, independentemente de serem sucessos ou fracassos.

Na atmosfera clássica de uma escola de Kung-Fu somos encorajados a desenvolver-nos ao nosso próprio ritmo. Quando aceitamos a nossa capacidade própria de aprendizagem, estamos a dar o primeiro passo - a concentração nos acontecimentos do momento.

O medo das lesões diminui na medida em que com o Kung-Fu praticamos uma série de exercícios que fortalecem o corpo, que ensinam a adoptar posições de protecção e a dominar técnicas de bloqueio lógicas e práticas, bem como passos e golpes controlados. Os exercícios devem fomentar o respeito mutuo entre alunos e professores, no intuito de esperar mais do treino do que um jogo de poder físico. As alterações ao quotidiano devem ser consideradas como um desafio e os acontecimentos devem constituir proveito, em vez de serem considerados ameaças pessoais ou profecias de insucesso. Através da mudança ganhamos experiência, que nos ajuda a saber mais sobre as nossas capacidades na escola, em casa, no trabalho e durante os jogos.

Na arte marcial chinesa o progresso significa aprendizagem constante, e ultrapassagem das dificuldades, que arrastam sempre consigo alterações do curso da vida, o medo do sucesso é raro. Por que é que se tem medo do sucesso? Por causa da tensão e da responsabilidade que a ele se encontram ligadas. É necessário ter um ego disciplinado, isto é, ter paciência, resistência, capacidade para se afirmar e uma personalidade muito forte, para aguentar os momentos bons e maus durante um jogo, uma época, uma carreira ou toda uma vida. A maioria das pessoas contenta-se com alguns momentos de sorte, mas o Kung-Fu multiplica e estende estes momentos de forma decisiva.

A resistência física é possível graças aos exercícios inteligentes e sãos do Kung-Fu, os quais podem também servir para desenvolver uma resistência mental. Os resultados manifestam-se na redução dos sinais de cansaço, de tensão ou de stress.

O praticante começa a sentir-se melhor espiritual e emocionalmente, quando repara que o corpo ultrapassou as fronteiras da sua capacidade normal de resistência. Aprenderá que a sua resistência ás manifestações de cansaço e às dores musculares é algo que se pode treinar diariamente.

Os exercícios regulares do Kung-Fu exercitam e fortalecem também o coração, já que este tem de bombear constantemente mais sangue oxigenado para o corpo. Do mesmo modo, também os pulmões são exercitados e fortalecidos.

O Nei-Ching, o mais antigo tratado chinês sobre medicina (escrito por volta de 2600 a, C.) descreve os pulmões como "os ministros responsáveis pela regularização do movimento e do modo de acção do homem". Obras posteriores afirmam que é possível, por meio de inspirações e expirações profundas, ficar mais lúcido e eventualmente prolongar a vida. O Dr. Herbet Benson, professor da Faculdade de Medicina de Harvard, provou que uma respiração correcta é parte essencial do relaxamento.

O cansaço pode ser despistado pelos diversos exercícios do Kung-Fu, quando nos esticamos ou descontraímos. Quando o corpo está rígido, os nervos e os músculos contraem-se, as ideias, as acções e os movimentos ficam tolhidos, o que aumenta consideravelmente os riscos de uma lesão.

Um pulso acelerado, o stress, uma respiração ofegante e um ritmo cardíaco acelerado são sintomas que se manifestam também quando estamos alegres e excitados. Um pouco de stress é importante para o bem-estar do homem. Temos de aprender a encarar a vida como um desafio constante e de nos compenetrarmos de que uma vida de satisfação se baseia numa série de problemas, e que depois da resolução de um problema, temos de passar imediatamente à resolução de outro.

As artes marciais chinesas colocam desafios ao espírito e ao corpo, que ajudam a resolver problemas do quotidiano. Pela aprendizagem do Kung-Fu abrem-se múltiplas oportunidades de abordar um problema e de encontrar o caminho mais eficaz para a sua resolução. Isto significa, entre outras coisas, tirar partido de acontecimentos negativos (por exemplo, tirar o melhor partido de uma situação de stress.

Só com paciência conseguimos construir a nossa capacidade de concentração, mesmo quando a mente esta fatigada e não funciona tão depressa como é habitual, podemos aprender a controlar a nossa excitação e esperar por uma mais lenta formação de ideias antes de agir.

Podemos desenvolver a nossa capacidade de resistência quando a mente regista dor e julgamos não poder aguentar mais. Aprendemos a armazenar reservas de força para levar as coisas ate ao fim. É possível aprender a construir estas reservas por meio do exercício constante do Kung-Fu.



Podemos de facto esperar tanto do Kung-Fu? A resposta é "Sim", se acreditamos na utilização inteligente do Kung-Fu.

Uma escola de Kung-Fu oferece a oportunidade de aprender a conhecer diversas formas de convívio social. Por intermédio das ideias-chave do Kung-Fu, tomamos consciência da influência da força de persuasão, da solicitude e da busca de prestígio e de reconhecimento. O empenho para conseguir um determinado resultado é aumentado pela mestria do Kung-Fu. E por último, alimenta-se o sentimento de solidariedade através das amizades que se criam e se mantêm, bem como da reconciliação depois de discussões.

As características típicas do Kung-Fu são os movimentos elegantes e semelhantes aos de uma dança, A combinação de posições, bloqueios, passos e golpes contra um adversário imaginário são designados no Kung-Fu por Tan ou Kuen. Esta sequência de movimentos exercita a capacidade de concentração e de afirmação. Um único kuen contém mais de 300 movimentos. Podemos, pois, imaginar quanto tempo e energia é necessário investir na aprendizagem destas sequências de movimentos.

Numa exibição artística, o lutador tem de provar que é mestre do seu corpo e dos seus movimentos e que controla os kuen, com facilidade, estilo e preciso. É por isso que os examinadores têm de prestar atenção á posição, á continuidade e á perfeição da técnica.

A autodefesa no Kung-Fu baseia-se no conceito de sobrevivência, o que significa estar alerta para proteger o bem-estar físico e mental, livrar-se de pensamentos e situações negativas, que impedem a obtenção do objectivo, seja ele, conseguir um emprego, realizar uma ideia ou ganhar uma luta. Pensamos em autoconfiança formada por um raciocínio rápido e um sentido muito desenvolvido de exigências, bem como por uma sensibilidade mental e física a indícios de situações improdutivas ou ameaçadoras.

A sobrevivência é uma arte. Os sobreviventes são artistas sempre prontos para mudanças de vida e agitação, que utilizam em sua própria vantagem.

Para a sobrevivência e para o trabalho devemos ser bem preparados na família e na escola, porque o caminho para o todo é difícil e complicado e a concorrência é enorme.

Queremos melhorar a nossa capacidade de reacção e apurar a nossa visão. Temos de aprender que podemos ser atacados de diversos ângulos; por isso, temos de aprender a lançar-nos na resolução dos problemas da vida. Temos de construir um núcleo de resistência para aprender a não desistir ao primeiro golpe ou ao primeiro não, e a reflectir sobre o passo seguinte. Queremos aprender a ser pacientes e a aguentar, mesmo depois de uma derrota. Queremos estar em situação de encontrar soluções aceitáveis, para nos apaziguarmos a nós, à nossa família, ao nosso professor, superiores ou clientes.

Isto não significa, porem, que de repente todo o movimento e alterações que se dão à nossa volta, representam uma ameaça. Estes movimentos e alterações sempre existiram, só que não nos tínhamos apercebido deles. Por meio dos exercícios físicos do Kung-Fu tornamo-nos mais cientes da linguagem corporal das outras pessoas. Tornamo-nos mais sensíveis aos gestos dos outros, que aprendemos a descodificar (ameaçadores, suplicantes, amistosos, carinhosos, interrogativos, etc.).

A filosofia do Kung-Fu pode ser considerada uma filosofia de vida e de sobrevivência. A origem do Kung-Fu reside numa série de exercícios físicos tradicionais, Nos anos de progresso os centros de gravidade alteraram-se. Dada a evolução constante da técnica, estes deixaram de se situar no corpo, para passarem a estar colocados na mente. Nos tempos modernos o chefe já não é o mais forte, mas o mais inteligente. Simultaneamente perdeu-se a relação com a actividade física, que tão importante fora no passado para a sobrevivência.

O primitivo jogo de forças pode ainda hoje ser observado nas crianças pequenas, antes de educadas segundo os ideais da sociedade. Como membros adultos da nossa sociedade recusamos o conflito físico.

Existe contudo a possibilidade de criar uma independência temporária da sociedade e dos compromissos que ela determina.

O que temos em mente é o conflito físico sob a forma de competição de Kung-Fu, com regras predeterminadas. A filosofia base desta luta não é a forca bruta, mas a criação de um diálogo psíquico entre os oponentes, um trabalho de equipa que exige confiança, coordenação, afinação e técnicas perfeitas. O contacto físico é permitido, mas a execução e o embate controlado de uma parte desprotegida do corpo são mais importantes do que o passo ou o golpe arrojado e violento.

Existem poucos praticantes que procurem situações de onde possam advir riscos de ferimentos para os outros. Mas há pessoas que precisam mais de contacto físico do que outras. Por isso torna-se importante encontrar um parceiro com os mesmos interesses: embora sejam maiores as possibilidades de coleccionar experiências quando se treina com diversos parceiros. Provavelmente ate descobrimos que somos um pouco mais rápidos e tenazes do que pensávamos. Possivelmente apreciamos este tipo de linguagem mais refinada e agressiva do corpo. O sentido do Kung-Fu não é servirmo-nos das nossas capacidades para prejudicar os que são física ou mentalmente mais fracos, mas conseguirmos uma consciência mais forte de nos próprios e dos outros.

O treinador e o árbitro zelam pelo respeito das regras do jogo e agem de modo a reduzir as agressões durante o treino, sem que ocorra o perigo de lesões serias, golpes ocasionalmente mais violentos tornam-nos mais atentos e obrigam-nos a maior concentração na acção do momento. Aprendemos, reflectindo sobre o último passo, golpe ou bloqueio, que o discernimento é reduzido pela preocupação com dores que podemos sofrer, e o medo não desaparece totalmente. Aprendemos como é importante concentrar todas as energias e manter todos os sentidos alerta num único momento. Ser apanhado aqui ou ali desenvolve a atenção. Aprendemos a não atacar irreflectidamente, mas a esperar por uma oportunidade, que prometa finalizar com sucesso um ataque. Comprovaremos que estamos em posição de reagir correctamente a situações inesperadas. Com um bom parceiro as variantes possíveis de ataque e defesa não têm fim.

Com o decorrer do tempo tornar-se-á um prazer exercitar tentativas e manobras novas, para apanhar desprevenido o opositor. A um nível superior de conhecimentos são apenas pequenas diferenças qualitativas da utilização da técnica que decidem o vencedor e o vencido.

A resistência e a coragem para continuar, independentemente de vitorias e derrotas, significa obter um perfil de vencedor, que tenta sempre dar o seu melhor e que aceita uma derrota como uma lição necessária da vida.

Fonte: Tudo sobre Kung-fu

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