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UM OLHAR TRADICIONAL SOBRE A CONTEMPORÂNEA FILOSOFIA DO JUDO,

segunda-feira, 15 de novembro de 2010.
15/11/2010

Por:Clóvis Corrêa Luiz Júnior,Giovanna Carla Interdonato, Bianca Miarka e Márcia Greguol.

RESUMO

Este estudo teve como objetivo investigar qual a opinião dos mestres mais graduados em judô do estado do Paraná sobre a atual conduta dos judocas diante dos valores tradicionais da filosofia do judô. Para isso, foi realizada uma pesquisa de caráter qualitativo. A amostra foi composta por três senseis. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas. Os resultados demonstram que os senseis acreditam que houve grandes mudanças por parte dos atletas em relação à valorização da filosofia do judô. No entanto, eles enfatizam que existe uma pequena minoria que cultiva os valores tradicionais da filosofia do judô.
Palavras-chave: Filosofia, Judô, Tradicional

INTRODUÇÃO

Atualmente um dos assuntos que vem causando certa polêmica e que é dificilmente abordado é a questão dos princípios filosóficos do Judô, pelo fato de que a modalidade, na maioria das vezes, vem sendo vista e praticada apenas com caráter competitivo, esquecendo-se dos valores que abrangem esta arte marcial.
O objetivo do estudo foi investigar quais as percepções que alguns senseis apresentam sobre a aplicação atual dos princípios filosóficos originais do judô.
Com tal estudo será possível ponderar sobre como vem se tratando da parte filosófica que é parte fundamental do judô criado por Jigoro Kano (VIRGÍLIO, 1986).
JUDÔ: RAÍZES E CRIAÇÃO UM BREVE RELATO

As artes marciais foram praticadas no Japão durante o período feudal, como a lança, arco e flecha, esgrima e muitas outras. O jujutsu era uma delas, também chamado Taijutsu e Yawara. Era um sistema de ataques que envolvia projeções, pancadas, cuteladas perfurantes e lacerantes, estrangulamentos, cotoveladas, joelhadas e imobilizações do oponente, bem como a defesa contra esses ataques.

Embora as técnicas do jujutsu fossem conhecidas desde os tempos mais primitivos, até a última metade do século XVI o jujutsu não era praticado nem ensinado sistematicamente. Durante o período Edo (1603-1868) transformou-se numa arte complexa, ensinada por mestres de numerosas escolas (KODOKAN, 1994).

Um rapaz filho de imperadores japoneses como o nome de Jigoro Kano buscou no Jujutsu uma saída na qual pudesse desenvolver suas capacidades físicas e melhorar sua qualidade de vida, por ser um rapaz de porte físico fraco, por volta de 1,50m e 50 kg, e apresentar uma saúde debilitada. Kano tinha como principal objetivo aprender esta arte para resgatar o prestígio do país, que passava por fortes mudanças com a entrada da cultura estadunidense, e também tinha o propósito de utilizar a arte marcial para educar não apenas o corpo, mas a questão moral e intelectual do indivíduo. Ele possuía um senso crítico por ser um estudante universitário, o que foi importantíssimo para ele começar a fundamentar o seu aprendizado de jujutsu junto à ciência, tendo a base científica para fundamentar a arte que estaria para criar. Percebeu então que poderia realmente utilizar destas técnicas com pressupostos pedagógicos para trabalhar o caráter do indivíduo. Depois de algum tempo, no fundo de um templo, chamando eishoji, funda o Kodokan, (que “ko” significa divulgar, “do” significa caminho, doutrina da vida e “kan” é local), ou seja, local para divulgar doutrina da vida, onde começou a ensinar o Judô. Com isso Kano saiu totalmente dos padrões de nomes das academias de jujutsu que eram todos relacionados à guerra.

Nesta época ainda não se denominava Judô, então Kano conservou a primeira letra Ju de jujutsu e substitui o jutsu, que significa aprimoramento da arte, por do, que tem um significado amplo de caminho, como doutrina da vida, caminho da vida que o indivíduo deve seguir até a morte.

A filosofia de Jigoro Kano tinha como objetivo, de acordo com TAKAGAKI, SHARP, 1997) apud MIARKA, (2006), divulgar, através da arte chamada agora de Judô, sua prática em princípios filosóficos para torná-la um meio de aprimoramento físico, intelectual e do caráter, em processo de aperfeiçoamento geral do ser humano.
Para isto o Kano fundamentou a filosofia do judô em duas máximas e nove princípios, os quais caracterizam a verdadeira essência da filosofia judoística.

Virgilio (1986) comenta que, independente do objetivo com que se pratica Judô, tanto para fins recreativos ou competitivos, os princípios e a filosofia do judô devem ser constantemente embutidos em seus praticantes de maneira séria e responsável para que haja um progresso técnico e filosófico. Em 1938, em uma reunião do Comitê Olímpico em Cairo, Egito, com objetivo de levar as Olimpíadas de 1940 para o Japão, Kano ao ser entrevistado por um repórter disse que: “Judô tem toda característica de esporte competitivo, mas tem algo mais que é subjetivo, que é a essência do judô, que é formar caráter do indivíduo através da prática das técnicas; se incluírem o judô nas olimpíadas esta essência se perderá.”

O crescimento do judô em todo o mundo foi lento, mas constante. O impulso decisivo aconteceu nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 64, quando se tornou realmente um esporte olímpico de projeção internacional. A partir deste marco o Judô começou a se distanciar de sua filosofia e ser encarado apenas como uma forma de disputa. Logo, torna-se instigante investigar, pelo exposto, como os senseis mais tradicionais e graduados do estado do Paraná vêem este fenômeno atualmente.

MÉTODOS

Este estudo de natureza qualitativa teve por objetivo investigar a opinião dos mestres mais graduados em judô do estado do Paraná sobre a conduta dos judocas atualmente em relação aos valores da filosofia do judô. O método qualitativo possui a característica de ter como objeto situações complexas ou estritamente particulares. Pode não só descrever a complexidade de um problema, como também compreender e classificar processos dinâmicos de grupos da sociedade e, inclusive, contribuir para processos de transformação de certos grupos sociais. De acordo com Minayo (1994), a metodologia qualitativa é indicada ao reconhecimento de situações particulares, grupos específicos e universos simbólicos que, neste caso, vinculou-se à atual filosofia do judô na visão de mestres tradicionais desta arte.

O estudo foi realizado em duas etapas. A primeira foi a realização de uma revisão de literatura do tema em questão. A segunda correspondeu à entrevista que foi realizada através de um questionário elaborado pelos pesquisadores, o qual faz inferência ao tema questionado foi aplicado a uma amostra composta por três senseis, com idades entre 60 a 70 anos, com graduações acima do 7º Dan no Judô, todos portadores de diploma de nível superior e residentes no estado do Paraná.

As questões buscaram contemplar a temática e os elementos importantes a ela subjacentes sendo divido em três etapas:

1. Dados de identificação: Nome, idade, descendência etc.

2. História e trajetória de vida: “Com quantos anos se iniciou no Judô?”, “O que
significa a Filosofia do Judô para você?” etc.

3. Concepções dos senseis em relação à Filosofia do Judô: “Qual a sua visão da Filosofia do Judô em relação aos atletas atuais? Ela é praticada? Por que?”, “Quais os aspectos da filosofia do judô que o atleta pode levar para a sua formação e exercer seus direitos de cidadão ?”, etc.
Os dados obtidos foram analisados descritivamente por meio da Técnica de Análise de Conteúdo em que se tratou de descrever os conteúdos conforme análise que visou subtrair das comunicações, indicadores (qualitativos ou não) que possibilitassem fazer inferências de conhecimentos relativos às condições que permearam a emissãorecepção da mensagem comunicada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados mostraram que os senseis acreditam que a filosofia do Judô continua a mesma desde que foi criada, mas a maneira de como esta filosofia vem sendo transmitida e empregada se modificou bastante, em todos os segmentos, desde os professores de academia no processo de ensino aprendizagem até os dirigentes na questão organizacional. De acordo com um dos entrevistados: “Anos atrás a formação dizia muito sobre o judoca, de onde foi formado, se o sensei era bem conceituado, mas na atualidade leva-se pouco em consideração esta referência. Acima de tudo, tem que gostar da modalidade, abraçá-la e levar junto seu semelhante. O mais difícil no Judô atualmente é administrar as vaidades, as mesquinharias. Só então quando isto se modificar é que poderemos adotar a filosofia do judô na teoria e também na prática”.

Este fato corrobora com o estudo realizado por SANTOS et al, (1990), o qual teve por objetivo analisar o conhecimento dos judocas em relação aos princípios filosóficos do judô. De acordo com o estudo, os judocas disseram que possuem o conhecimento de que a filosofia do judô existe. No entanto, cerca de 74% dos entrevistados não sabia dizer nenhum dos princípios que são aspectos primordiais da filosofia do judô. Logo os autores concluíram que a filosofia do judô está perdendo sua ideologia e deram como explicação ao fato a metodologia de ensino que os técnicos estão utilizando em seus treinamentos, em que adotam como objetivo apenas o rendimento esportivo. É válido ressaltar que um fator que pode justificar o não conhecimento da filosofia do judô são as diferenças culturais entre o oriente e o ocidente. De acordo com o estudo de Borges (2003), a falta de conhecimento ocorre pela confusão entre espiritualidade e religião, dando margem a diferentes interpretações e não entendimento, principalmente quando ocorre a falta de embasamento teórico.

Desta forma, faz-se necessário que seja transmitida a filosofia proposta pelo criador Jigoro Kano com os significados dos conceitos, os princípios e as máximas judoísticas.

Quando abordados sobre os benefícios da filosofia para a personalidade do indivíduo, as respostas foram unânimes. Todos disseram concordar que ela realmente tem a contribuir para os atletas. “A filosofia do judô leva a refletir que judô não é a ‘poção mágica’ que possa trazer todas as melhorias, mas através desta arte marcial, da experiência pessoal, pode-se aconselhar e demonstrar que a filosofia que em qualquer atividade que venha a exercer, dar o máximo de si, usando a capacidade individual racionalmente para que venha trazer benefício para a sociedade em todos os segmentos da vida, pessoalmente, profissionalmente, contribuir para a sociedade em todas as áreas que um judoca atua, sendo o melhor possível”.

De acordo com os senseis entrevistados, o judô atualmente vem sofrendo mudanças em todos seus aspectos principalmente os relacionados aos valores judoísticos fato este que eles atribuem principalmente ao caráter competitivo do esporte atualmente.

Para eles o judô nunca deveria ter sido olímpico, “aprimorou-se a prática e se esqueceu da filosofia e dos valores”. De acordo com a fala de um deles, um exemplo disto: “Em competições atualmente mal fazem esta saudação, e não se pode deixar a área de combate antes de saudar o adversário, mas o que se vê é atleta saindo correndo, comemorando, indo abraçar pai, mãe, namorada etc. O árbitro não pode arrastar o atleta de volta e abaixar a cabeça do atleta, então é preciso que sejam ensinados os bons modos”.

Quando perguntado sobre o que fazer para reverte esta situação, os mesmos disseram que: “A filosofia não pode ser mudada, mas pode ser adaptada à realidade da sociedade em que se vive, porém a essência de formar bom cidadão não deve ser modificada”. De acordo com os senseis, este processo de descaracterização do judô é dificilmente reversível e seria necessário que as federações e confederações se conscientizassem e buscassem alternativas para tentar modificar esta realidade.

CONCLUSÃO

Pode-se notar que os senseis mais graduados acreditam que houve grandes mudanças no modo de ensino da filosofia do judô, principalmente pela modalidade ter sido transformada em esporte mundial, em que se visa principalmente o rendimento técnico e se deixa de lado a essência do judô. Acreditam também que o processo é muito difícil de ser revertido e que caminha para uma divisão entre Judô Competitivo e Judô Tradicional, porém ainda crêem que existem muitos judocas que praticam o verdadeiro Judô, apesar das mudanças ocorridas nos últimos tempos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEIXO, Antônio Lopes. A Dimensão Social do Judô na Formação do Jovem. IN: THE SECOND INTERNATIONAL JUDO FEDERATION WORLD JUDO CONFERENCE. Munique, 2001.
BORGES, E. O judô e suas simbologias ocidentais. Disponível em: http.www.judobrasil.com.br. Acessado em: 2 de junho. 2003.
CARVALHO, Mauri. Judô: a arte de educar para enfrentar. IN: PALESTRA “JUDÔ: ÉTICA E EDUCAÇÃO”. 2006, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: II Módulo de Estágio Técnico da Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro, 2006
DEL VECCHIO, Fabrício Boscolo; MATARUNA, Leonardo. Jigoro Kano e Barão De Coubertin: nuances de um pré olimpismo no oriente. Capminas, 2003.
DRIGO, Alexandre Jonatta. Reflexões sobre a História do Judô no Brasil: A Contribuição dos Senseis Uadi Mubarac e Luis Tambucci. ______, 1997.
KODOKAN. What is Judo? 4ª ed. Tokyo, 1956.
LASSERRE, Robert. Judô: Manual Prático. 2ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1975.
MIARKA, Bianca. Efeitos de Diferentes Ações Musculares Pré-esforço na Realização do Special Judô Fitness Test. 2007. Monografia (Especialização Lato sensu em Treinamento Esportivo) – Universidade Estadual de Londrina.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento científico:Pesquisa qualitativa em saúde (2a. ed.). São Paulo: Hucitec-Abrasco 1994.
RUAS, Vinícius. Os Admiráveis Samurais e a Etnografia de Jigoro Kano. Rio de J aneiro, 1997.
SANTOS, Saray Giovana. Judô: Onde Está o Caminho Suave?. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desenvolvimento Humano, Florianópolis, n. 1 Vol. 8, 2006 SANTOS, Saray Giovana; MELO, Sebastião Iberes Lopes. Os "ukemis" e o judoca: significado, importância, gosto e desconforto Revista Brasileira de ineantropometria
& Desenvolvimento Humano, Florianópolis, n. 2 Vol. 5, 2003 SANTOS, Saray Giovana. et al. Estudo sobre a Aplicação dos Princípios Judoísticos na Aprendizagem do Judô. Maringá, 1990.
SILVA, Daiene; SANTOS, Saray Giovana. Princípios filosóficos do judô aplicado à prática e ao cotidiano. http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Ano 10 - N° 86 – julho. 2005.
TICHENOR, Clyde. The Philosophy of Judo. Encimo Judo Club, 1999.
VIRGÍLIO, Stanley. A Arte do Judô. 2ª ed. Campinas: Papirus, 1986

Divulgação Judo Familia Fontes

Fonte: Elton Silva
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ENTREVISTA COM MINORU MOCHIZUKI Por Stanley Pranin e Ikuko Kimura

sábado, 9 de outubro de 2010.
A entrevista que se segue foi realizada no Dojo do Sensei Minoru Mochizuki, na cidade de Shizuoka, em 22 de novembro de 1982.

Aiki News 54 – Abril de 1983

Minoru Mochizuki, fundador do Yoseikan Aikido




Aiki News: Sensei Mochizuki, creio que a primeira arte marcial que o senhor praticou foi o Judô.

Mochizuki Sensei: Exato. Eu comecei um ano antes de ingressar na escola elementar. Quando eu já estava cursando a 5ª série, nós nos mudamos e então eu tive que parar com meu treinamento. No novo local, do outro lado da rua e apenas uma casa acima, havia um dojo de Kendo, que eu passei a praticar. Quando eu estava na escola intermediária, voltei a praticar Judô e não parei mais. Eu sentia que iria gostar de me tornar um especialista de judô, então procurei o Kodokan (sede mundial do Judô). Um ano antes, contudo, eu tinha ingressado no dojo de um dos mais professores da Kodokan, chamado Tokusanbo. Na época, costumava-se dizer nos meios de judô: “Mifune é o mais técnico, mas o demônio do Kodokan é o Tokusanbo”. Realmente, ele era um professor poderoso e assustador. Seu dojo ficava em um local conhecido por Komatsugawa. Na época, eu morava com uma irmã cuja residência era próxima daquele local. Eu treinei lá durante seis meses aproximadamente, quando me mudei novamente e então ingressei no Kodokan para me tornar um judoca.

Eu ingressei no dojo do Sensei Tokusanbo em 1924. Naquela época, um professor de Jujutsu do antigo estilo “Gyokushin-ryu” morava perto da minha irmã. Seu nome era Sanjuro Oshima. Esse professor estava realmente entristecido com o desaparecimento dos estilos clássicos do Jujutsu e estava determinado a preservar sua própria arte. Tanto que pediu que eu a aprendesse através dele. Eu iria à sua casa, onde me seriam oferecidos excelentes refeições e eu não teria que pagar nada pelas lições. Foi assim que eu comecei a praticar Jujutsu.

O senhor atingiu qual graduação naquela arte?

Após seis meses, aproximadamente, eu recebi um certificado de “Shoden Kirishi Mokuroku”, razoavelmente comparável à faixa preta 1° Dan de Judô. Com isso, terminou meu relacionamento com aquele mestre, mas até hoje eu me lembro de suas palavras: “O nome da nossa tradição é Gyokushin Ryu. Esse nome está escrito com caracteres que significam ‘Espírito Esférico’. A bola vai rolar livremente. Não importa qual lado seja impulsionada, ela rola sempre. É justamente desse tipo de espírito verdadeiro que Gyokushin Ryu procura imbuir seu praticantes. Uma vez atingido esse ponto, nada neste mundo irá desapontar você”. Naquele tempo, eu era uma criança e não entendia muito bem o que ele queria dizer. Eu simplesmente imaginava um coração ou um espírito rolando aqui e ali. Somente após ter completado 50 anos eu pude entender o real significado do “espírito esférico Gyokushin”.

Se você não dedicar 50 anos aquele estudo, você não o compreenderá. Eu esqueci isso por muitos anos.

Quais outras artes marciais o senhor praticou?

Eu também pratiquei Kendo. Eu esqueci o nome do meu mestre, mas nunca esquecerei as coisas que ele disse. Ele disse-me uma vez que: “Quando um tinha 13 anos, eu participei da famosa Batalha do Ueno. Olhe para você! Você tem 12 anos, certo? Como você espera ser capaz de manejar sua espada no próximo ano, sendo tão fraco?”. Esse era o tipo de mestre que eu tinha no Lendo. Assim, durante o período em que eu pratiquei Judô sob a orientação do “Demônio” Tokusanbo, eu também praticava Gyokushin-Ryu Jujutsu. Esse método utiliza várias técnicas de sacrifício e algumas outras muito similares às do Aikido. Posteriormente, em maio de 1926, eu ingressei na Kodokan e já em junho fui oficialmente promovido à faixa preta 1° Dan. Isso deveu-se ao fato de que em todas as competições de que havia participado eu havia vencido todos os faixas pretas que lutaram comigo. Por isso, eu achava que já possuía todas as qualificações para faixa preta mesmo antes de recebê-la. Foi também por isso que eu recebi o 2° Dan no mês de janeiro subseqüente, apenas 6 meses depois. Um ano mais tarde, eu recebi o 3° Dan. Eu acho que havia demonstrado estar à altura da maioria dos faixas pretas 3° Dan durante todo o tempo em que fui 2° Dan. Afinal, eu vinha praticando Judô antes mesmo de iniciar meus estudos regulares.

Que tipo de Judô era praticado na Kodokan?

Naquele tempo, uma de minhas irmãs vivia na cidade de Tsurumi, na prefeitura de Kanagawa, e ela gentilmente me convidou para morar com ela. Diariamente, eu tomava um trem para Tóquio, para praticar Judô na Kodokan. Então, tiveram início às sessões especiais de treinamento chamada “Kangeiko”. Durante 1 mês, tínhamos que iniciar nosso treinamento às 4 horas da manhã, todos os dias. Claro que não havia trens àquela hora, então eu tinha que caminhar até o Dojo. Era uma distância considerável entra minha casa em Tsurumi e a Kodokan, o que me obrigava a sair à meia noite para chegar a tempo. Lá ia eu margeando a estrada de Tokaido, arrastando meus tamancos de madeira. À medida que me aproximava da Kodokan, ia encontrando outros alunos, com suas faixas pretas sobre os ombros, chegando diligentemente de outros lugares. Alguns pareciam estar competindo comigo par achegar antes. Bem, eu estava na estrada desde a meia noite e não iria deixá-los me vencer, então começava a correr. Quando me viam correr, começavam também a fazê-lo. (risos)

De qualquer modo, eu havia andando e corrido até a Kodokan, e, quando chegava lá, estava coberto de suor. Havia um poço lá, mas a água da superfície estava geralmente congelada. Eu quebrava o gelo e me lavava da cabeça aos pés antes de correr para o Dojo. Bem, um dia eu estava junto ao poço quando percebi a falta do balde que costumava ficar lá.Alguém havia removido de lá. Eu não podia perder tempo procurando-o ou chegando atrasado para o início do treinamento, então pulei dentro do poço, onde permaneci por alguns segundos. Quando estava saindo do poço, percebi que alguém estava me ajudando a fazer isso, puxando-me pelo braço. Quando me virei para agradecer, quem vocês acha quem era? O Sensei de todos nós, Mifune. Fiquei atônito e momentaneamente sem ação. Eu já tinha removido o gelo e tudo mais. Finalmente, consegui dizer “Bom dia”. O Sensei olhava-me fixamente. “Mas o que é que você está fazendo?”, perguntou-me. Eu respondi acovardado que estava saindo da água. Talvez o Sensei tenha sentido pena de mim, pois me deu uma pequena toalha disse que eu me enxugasse. Então perguntou por que eu estava me lavando naquela água fria. Eu expliquei que tinha que vir caminhando de Tsurumi todos os dias, ao que Sensei Mifune me falou: “Esta noite você pode ficar na minha casa. Seu bobo, arruinando sua saúde dessa maneira”.

A partir daquele dia, eu permaneci na casa do Sensei Mifune. Na prática, eu me tornei um de seus dependentes. Naquela época, havia centenas de alunos que viviam às suas custas para poderem aprender Judô, mas logicamente o Sensei não poderia hospedar a todos. Quando passei a morar em sua casa, já havia três alunos vivendo lá. Disseram-me para ocupar um quarto de apenas três “Mats” (equivalente a 6 metros quadrados), onde já ocupado por mais dois outros colegas. E eles eram grandes! Praticamente só havia espaço para estender minha roupa de cama, então a única coisa que eu podia fazer era deitas entre eles e dormir. Eu dormia razoavelmente aquecido, pois as cobertas deles ficavam também sobre mim, mas, sempre que eles se mexiam, eles chutavam os cobertores para os lados. Toda hora eu acordava com frio por causa disso. (risos)

Como era o seu relacionamento com o Sensei Mifune?

Durante o dia, o Sensei Mifune freqüentemente nos contava histórias sobre outras artes marciais. Isso era bom, especialmente para mim. Foi assim que aprendi tudo sobre Judô. Naquela época, dizia-se que era impossível para um praticante obter sua licença se apenas fosse ao dojo treinar e, em seguida, voltasse para casa. Em outras palavras, tal aluno nunca receberia o certificado de mestre-instrutor de Menkyo Kaiden. Os alunos de fora vinham treinar por dia, tendo, assim, a chance de ouvir todas as histórias que seu mestre tem para contar. Eu, assim, aprendi muito. E é assim que se começa a entender o lado espiritual da arte marcial.

Essa é a história do Sensei Jigoro kano. Dentre seus muitos alunos, havia um homem excelente, chamado Okabe, que era realmente muito inteligente e um forte judoca. Entretanto, o Sr. Okabe insistia em dizer que o judô era um esporte. “Se o judô não é um esporte, então não é nada!”, dizia. Bem, o Sensei Kano gostava verdadeiramente daquele aluno, mas achava, do fundo do seu coração, que o judô não devia se tornar um esporte simplesmente. Como você sabe, há em outros países igrejas especializadas no ensino de como conduzir uma vida dentro dos padrões morais. No Japão, não temos esse tipo de instituição voltada para o ensino da moralidade, portanto, o Sensei Kano ao criar o judô, tencionava aliar a um método de treinamento físico princípios e práticas morais. Enquanto isso, seus discípulos estavam se dedicando exaustivamente a seus estudos regulares e, em decorrência, muitos adoeceram. Um grande número deles morreu em conseqüência de moléstias pulmonares.

O Sensei Kano transformou as antigas técnicas do Jujutsu passaram a constituir o judô; ou seja, ele adaptou aquelas antigas técnicas de forma que pudessem ser praticadas como um esporte ao invés de restringi-las à atmosfera específica de um dojo. O “do” da antiga palavra budo (caminho marcial) tem o significado de “virtude” ou “moralidade”. Isso é a essência do dojo. O dojo é um lugar onde você cultiva a virtude enquanto pratica técnicas marciais. O que correlacionado com virtude. Foi por isso que um dos alunos do Sensei Kano tinha aquelas discussões acaloradas. Não importava quantas vezes o Sensei expusesse seu ponto de vista, o outro insistia em dizer que “esse tipo ambíguo de arte é inaceitável. As formas de ganhar ou perder no judô são típicas de um esporte, já desenvolvimento de personalidade é outra coisa bem específica. Ninguém precisa cultivar valores normais ao praticar um esporte. Isso aparece normalmente durante a prática”. Posteriormente, aquele aluno graduou-se em educação física. Ele era extremamente teórico.

Tudo aquilo fez o Sensei Kano pensar. Se a pessoa apenas pratica judô, essa arte tornou-se apenas um esporte. Então, decidiu introduzir treinamento de artes marciais na Kodokan e construiu um dojo específico para isso. Ele esperava mostrar nas artes marciais pré-moderna a todos e aqueles que estivessem interessados poderiam praticá-las livremente. Ele achava que se pudesse transmitir aos praticantes o verdadeiro espírito das artes marciais, esses se tornavam capazes de desenvolver e praticar o espírito do budo. Foi assim que ele fundou a Kobudo Kenkyokai (associação de pesquisa das artes marciais).

O senhor também estava ligado àquele grupo?

Eu morava na casa do Sensei Mifune durante aquele período e também sentia a necessidade de inclusão do treinamento espiritual, então me juntei ao grupo. Naquela época, eu era também faixa preta 2° Dan de Kendo, então sabia como manejar uma espada, realizar o trabalho dos pés e utilizar toda a extensão dos meus braços. Ou seja, eu era completamente diferente dos instrutores que só haviam praticado judô. Foi por isso que, após iniciar os treinamentos com o grupo, fui notado pelo Sensei Kano. “Você tem a postura de um líder”, falou-me. Depois disso, eu tinha que reportar ao Sensei maués progressos no treinamento, uma ou duas vezes por mês. Um dia, enquanto fazia meu repouso, o Sensei me disse: “No futuro, você será o principal professor da Kodokan”. Eu fiquei atônito. Naquele tempo, encontravam-se entre os grandes mestres pessoas como Sensei Mifune e Sensei Tokusanbo. Eu ficava admirando se um dia pudesse alcançar o nível de ambos. Então, um dia, após terminar meu reporte, o Sensei me perguntou: “Qual o sentido que você dá ao caractere ju na palavra judô?”. Pra mim, significa suave ou flexível, respondi. “Você pode praticar judô apenas por ser suave ou flexível?”, replicou ele. Agora eu havia sido apanhado. Claro, se você for apenas suave, você irá perder sempre. O Sensei continuou: “O que você está praticando não é judô e sim Godo (caminho duro) e, se continuar assim, nunca irá praticá-lo. A rigidez acompanha a flexibilidade e a flexibilidade acompanha a rigidez. O Jujutsu é o caminho através do qual se combinam os conceitos essenciais de maciez e dureza”. Naquela época, eu era apenas um rapaz de 21 anos e o ouvia com a sensação de haver entendido ao menos em parte o que o mestre estava tentando me transmitir, embora ele insistisse em dizer que eu ainda não o havia entendido. Considerando-se que “ju” é algo bem racional, isso é quase um conceito intelectual.

O que o senhor tem a nos dizer sobre sua associação com o Sensei Kano?

Em uma ocasião, participei de um torneio de judô promovido pela Nihou University. Participei e venci. Na tarde do mesmo dia, estava sendo realizado um torneio de judô na mesma universidade, do qual também participei e venci. Lá estava eu, ganhando duas medalhas no mesmo dia. Eu era ainda uma criança, e, feliz com o acontecido, que me esqueci completamente de meu compromisso com o Sensei Kano e voltei correndo para casa. Quando lá cheguei, minha irmã me perguntou sobre meu compromisso com o Sensei Kano. Saí correndo de casa e pulei em um trem, de volta à cidade, antes que me desse conta que havia esquecido a carteira. De cabeça baixa, eu poderia pedir ao condutor que me deixasse saltar, mas o problema é que não havia como mudar de trem no meio do caminho. Enquanto eu não sabia que estava sem dinheiro, não tive nenhum problema em tomar o trem, como habitualmente. Agora, entretanto, eu sabia de antemão que não poderia pagar o bilhete foi muito difícil conter meu nervosismo. (risos) Eu hesitava, mas finalmente expliquei ao novo condutor o que havia acontecido, e ele gentilmente permitiu que eu completasse a viagem. Eu nunca vou esquecer aquela terrível sensação.

Enfim, eu corri para a casa do Sensei, chegando às 16:30hs para um encontro marcado para as 14 horas. O Sensei era um homem muito ocupado. Ele é do tipo que planeja seu dia de trabalho segundo a segundo, então eu estava preocupado sobre quão duramente eu seria repreendido desta vez. Foi com pensamento desse tipo que fui ao seu encontro. O Sensei tinha 70 anos naquela época, e assim que soube que eu chegava, vestiu um hakama para me receber. Na realidade, ele se vestiu formalmente apenas para receber uma pessoa 50 anos mais jovem. Ele me encarou por alguns segundos e depois me perguntou se estava doente. Eu comecei a lhe contar com havia ganhado duas medalhas. Acho que havia um certo tom de orgulho em minha voz, pois o tom de voz do Sensei mudou completamente. “O que você pensa que esses torneios são, afinal de conta?”. Eu havia vencido, então não podia atinar com o motivo pelo qual ele não estava contente com isso. Ele continuou: “Nós escrevemos a palavra shiai (torneio) com caracteres que significam” tentar juntos “. Shiai´s são parte do treinamento em artes marciais e servem para você medir periodicamente os limites de seus pontos fortes. Você precisa fazer isso duas vezes no mesmo dia?”. Eu havia participado para vencer. Não havia nem pensado em meus pontos fortes. O Sensei voltou à carga: “Você tem uma idéia errada sobre o judô. Competição não é algo de que se participe por diversão. Com esse tipo de atitude, você nunca será um bom instrutor”. A despeito da grande diferença de idade entre nós, o Sensei Kano tinha começado a me educar para que me tornasse um instrutor.

Naquela época, eu estava também treinando no Katoni Shinto-Ryu. Essa arte utilizava a espada, o bastão (bo), naginata, lança, espada curta, duas espadas juntas e técnicas de jujutsu. Eu ainda praticava kendo, então circulava entre vários dojos e treinava diariamente por cinco ou seis horas. Além de tudo isso, antes do meu desjejum eu aprendia algo chamado Muso-ryu Jojotsu. Eu fiquei forte rapidamente. Foi mais ou menos nessa época que o Sensei Kano foi assistira uma demonstração feita por Sensei Ueshiba, a convite de Isamu Tekeshita, um almirante. O Sensei Kano estava muito impressionado. Ele disse ao Sensei Ueshiba gostaria de vê-lo instruindo alguns de seus próprios discípulos se o Sensei Kano os enviasse até ele. E aconteceu que eu fui enviado.

Inicialmente, eu pensava que seria apenas mais um compromisso na minha já apertada agenda de treinamento. O Sensei Kano nos disse: “Outro dia eu tive oportunidade de conhecer as técnicas de um mestre de Jujutsu chamado Ueshiba. Eram realmente maravilhosas. Eu senti que eram as verdadeiras técnicas do Judô. Eu gostaria que Ueshiba viesse aqui na Kodokan ensiná-las, mas ele é um famoso mestre e, em sua própria defesa, isso seria impossível. Por isso, consegui que alguns de nossos alunos fossem ao dojo dele para serem treinados”. Com um olhar, ele demonstrou que gostaria que eu fosse um daqueles alunos, assim, eu e um amigo chamado Takeda fomos os escolhidos.

Isso se passou em 1930, quando o Sensei Ueshiba ainda não tinha um dojo próprio e usava a sala de estar de uma residência no bairro de Mejiro, em Tóquio, para dar as suas aulas. Mas imediatamente após começarmos a treinar lá, mudamos-nos para o recém construído Ushigome Dojo (parte do atual Hombu Dojo). Por ocasião do término da montagem daquele novo dojo, Hajime Iwata, da prefeitura de Aichi, um amigo que era um antigo lutador de sumo, e o jovem Tsutomu yukawa, também treinavam lá. O grupo era constituído por cinco ou seis pessoas. O Sensei Ueshiba disse-me, sendo eu um recém chegado: “Esses uchideshi são ainda muitos jovens e eu gostaria que você os supervisionasse”. Eu tinha 24 anos, na época. Eu discuti esse convite com o Sensei Kano, sendo minha opinião: “O Sensei Ueshiba está me valorizando e eu devo me tornar um menkyo kaiden me curto espaço de tempo. O que o senhor acharia se ele me convidasse a morar com ele e me tornar um supervisor de grupo dos alunos jovens?”. O Sensei Kano me respondeu: “Dizem que lá não há licença para professores de fora, então acho que está bem. Mas não se esqueça de continuar a me fazer os seus reportes mensais”.

Um dia, fui chamado pelo almirante Takeshita. Ele queria me dizer que o Sensei Ueshiba estava interessado em me tornar seu genro adotivo (eu devia me casar com sua filha e adotar o sobrenome Ueshiba). Que eu faria agora? Eu tinha recebido proposta semelhante do Katoni Shinto-ryu, onde havia o presidente de uma campanha farmacêutica, que era vizinho de minha irmã, o qual havia viajado até a prefeitura se Shizuoka, somente para perguntar à minha família se eu podia ingressas na sua, através do casamento. Pessoalmente, as únicas experiências que eu havia tido com garotas limitavam-se às conversas com minhas irmãs, e nunca havia pensado em me casar, assim, terminei por recusar as três ofertas.

Foi por aquela época que eu fiquei seriamente doente. A canja foi puro excesso de trabalho. Deixei de treinar por um mês, que aproveitei para dormir. O Sensei Kano estava realmente preocupado comigo, chegando a providenciar minha hospitalização, cujas despesas serem cobertas pela Kodokan. Mas meu irmão veio de 
Shizuoka para me buscar, então eu expressei meus profundos agradecimentos ao Sensei Kano e deixei Tóquio. Eu me internei no Hospital Municipal de Shizuoka, onde permaneci por três meses. Os médicos ficaram surpresos com a rapidez da minha recuperação. Eu estava sofrendo de pleurisia e tuberculose, mas todo dia meu médico dizia que eu estava melhor e me recuperando rapidamente.

Naquele mesmo ano meu irmão e alguns amigos haviam montado um dojo no centro da cidade, e eu acho que eles temiam que, se eu regressasse a Tóquio, acabaria morrendo. De qualquer forma, nos decidimos que, assim que eu saísse do hospital, eu iria recomeçar a treinar aos poucos, ensinando os jovens da cidade. Enquanto me recuperava, quando o Sensei Ueshiba soube disso, ele, o almirante Takeshita, o general Miura, o Sensei Shunnossuke Emoto, o sensei Yasuhiro Konishi e foram bastante gentis a ouvirem à minha cidade para a cerimônia de inauguração do dojo. Depois disso, todo mês, quando o Sensei Ueshiba ia ensinar em um dojo da região de Omoto, em Ryoto, eles faziam uma parada na minha cidade durante sua viajem de regresso. Algumas vezes ele ficava por dois ou três dias. Ele realmente gostava de mim. Ele parecia querer ficar, não tinha pressa de regressar, e às vezes sou filho Kisshomaru tinha de vir buscá-lo. Ele gostava da minha casa a esse ponto. Foi mais ou menos naquela época que ele me deu os pergaminhos de Menkyo Kaiden (diploma de mestre-instrutor). Um deles media aproximadamente dois metros de cumprimento e o outro aproximadamente três. O mais longo era intitulado “A Defesa Pessoal do Daito-ryu Aiki Jujutsu” enquanto o título do outro era “O ângulo dos ensinamentos do Daito-Ryu Aiki Jujutsu”. Penso não haver nenhuma pessoa viva atualmente que tenha recebido esse tipo de certificado das mãos do Sensei Ueshiba. O Sensei Tomiki recebeu seus pergaminhos um pouco antes de mim.

Realmente, apenas alguns dias atrás, um dos discípulos do Sensei Tomiki veio aqui e conversamos sobre muitas coisas. O Sensei Tomiki e meu irmão nasceram no mesmo dia do mesmo ano e eram amigos íntimos. Pessoalmente, eu nunca fui tão chegado a ele. Ele começou a praticar Aikido uns cinco anos antes de mim, então é um pouco mais graduado que eu. Então, novamente, ele é um acadêmico e eu aprendi muita coisa através de seus escritos. Mas se eu acho que algo está errado, sou o tipo de pessoa que diz isso diretamente. Eu sempre expressei minha opinião francamente, mesmo para o Sensei Ueshiba. Então, após ter sido xingado por isso, eu deveria reconsiderar os acontecimentos daquela época.

Sendo fidedigno, eu, em duas oportunidades, levei a melhor em discussões com o Sensei Tomiki. Uma vez foi sobre a maneira de sacar a espada de sua bainha. Quando ele estava demonstrando com fazer isso, eu corrigi os erros do seu método. A outra está relacionada com seus esforços em converter as artes marciais em esporte. Eu lhe disse: “Sensei, o senhor pode falar sobre a conversão de artes marciais em esporte, mas não temos a intenção de fazer isso”. Ele replicou: “Mas se não convertemos as artes marciais em esporte, o aikido nunca irá para frente e morrerá”. Meu sentimento sobre esse assunto é exatamente o oposto. Eu penso que o dia em que as artes marciais virarem esporte, será o dia em que elas morrerão. Não é uma consideração sobre o que realmente são das artes marciais japonesas deve sempre fluir para o oceano dos esportes ele certamente estará poluindo antes de percorrida os primeiros 30 metros.

Ambos, Sensei Kano s Sensei Ueshiba, insistiam que o método de ensino das artes marciais nunca deveria se converter em um tipo de jogo. O famoso historiador Arnold Toynbee escreveu certa vez: “Civilização é algo nascido em um determinado pais. Mas se crescer e se espalhar por toda a parte deixará de existir em seu local de origem. Mais ainda, nunca mais voltará a existir naquele local de origem. Isso é um fato histórico”. Budismo na Índia, cristianismo em Israel e confucionismo na China são todos bons exemplos daquela afirmação. Isso é algo que deveria ser monitorado em relação às artes marciais. Se o aikido e o judô vierem a fazer parte do mundo dos esportes, eles certamente serão distorcidos pelos esquemas que envolvem vencedores e perdedores, fortes e fracos. As artes marciais se extinguirão. É ótimo para as artes marciais japonesas se espalharem pelo mundo, mas isso nunca deveria acontecer. Através de um esquema de jogo.

Se as artes marciais não enfatizarem o desenvolvimento do caráter, então irão causar condutas inapropriadas, especialmente entre os jovens. Quando eu disse isso ao Sensei Tomiki, ele não conseguiu replicar. Ele não disse nada. Ele abriu como se não valesse a pena responder a um teimoso como eu e que o que quer que os jovens fizessem, para ele estaria tudo bom. Uma das causas de delinqüência juvenil é a segregação de um membro de seu círculo de amigos ou de seu grupo esportivo. Treinadores, entretanto, estão interessados apenas no treinamento dos atletas e nas questões relacionadas às vitórias e derrotas. Eles não se importam naqueles que deixam o time, porque só estão interessados em vencer. Nos esportes, não há lugares para os fracos ou menos competentes.

Pessoalmente, eu preferiria que a maioria dos esportes se transformasse em artes marciais, assim o desenvolvimento espiritual e a prevenção da má conduta fariam parte do seu treinamento. Eles deveriam estar mais preocupados em formar jovens que não causassem problemas aos seus irmãos e na promoção de bom relacionamento entre maridos e mulheres.
Se você fala em “amor”, tem que admitir que o contrário é “ódio”.

Por outro lado se falamos em harmonia, estamos falando se algo que inclui noções de razão. Amor é uma emoção que não pode existir sozinha. Precisa estar firmemente circunscrita à própria etiqueta (reiji). Amor precisa incluir comportamento adequado. A antiga afirmação “mesmo entre os melhores amigos, a etiqueta deve prevalecer” se aplica ao caso. Mesmo entre marido e mulher, é necessária. Começa com um “bom dia” todas as manhãs. Recentemente, a correta etiqueta tem dado lugar a simples demonstração de emoções. Os casais imaginam que tudo irá bem enquanto eles estiverem bem. Isso é o que conta, mas no mundo real não é o comportamento mais adequado. De acordo com um velho verso japonês: “Se você examinar cuidadosamente o ideograma utilizado para ‘pessoa’, notará que se parece com dois movimentos mutuamente dependentes”. Seres humanos são animais sociais. Nós podemos comer arroz por que há fazendeiros para produzi-lo. Sem eles, teríamos que produzir nossa própria comida. Em outras palavras, nós ajudamos uns aos outros. O conceito de “você” e “eu”, isoladamente, é incorreto. Harmonia consiste em emoção e razão. Essa é a natureza da harmonia. As artes marciais ensinam etiqueta e razão. A forma de direcionar o espírito de uma pessoa também é aprendida através das artes marciais. Em paises estrangeiros, isso é ensinado em igrejas.

Há 30 anos, passei dois anos e meio na França ensinando judô. Um dia, durante uma sessão especial de treinamento para competição, eu disse aos alunos que deveriam treinar também no domingo. Os alunos me disseram que não poderiam vir, pois teriam que ir à igreja. Fiquei muito surpreso ao ouvir isso. Não imaginava que os jovens fossem à igreja. Eu lhes perguntei se eles ao ficavam entediados ao ouvir sempre as mesmas histórias sobre Deus. Eles me responderam: “Sensei, seres humanos são animais esquecidos”. Entendo, pensei. Eu às vezes me esqueço dos ensinamentos do meu Sensei e dos Kamis (deuses) e discuto com minha mulher e meus irmãos. Esquecidos... Eu realmente acho que meus alunos estavam certos. Eu estava envergonhado e me vi refletindo sobre minha conduta. Temos que ouvir freqüentemente histórias sobre os Kamis porque os seres humanos são esquecidos. Então, pela primeira eu compreendi a importância que o Sensei Kano dava ao “caminho” quando estava ensinando judô. E porque o Sensei Ueshiba freqüentemente mencionava o kami enquanto estava ensinando aikido. Eu percebi que esse é o verdadeiro significado das artes marciais.

(Traduzido do inglês para o português por Fernando Lopes Penteado-Instituto Takemussu shodan)

Divulgação Judo Familia Fontes

Fonte: Elton Silva
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O Ne-waza e o Judô

terça-feira, 5 de outubro de 2010.
Kosen Judo, Fusen-Ryu e Brazilian Jiu-Jitsu

O Fusen-ryu Ju-jutsu
O judô de Jigoro Kano, ou Kano ju-jutsu, como era chamado em sua criação, representa uma síntese desenvolvida a partir de vários estilos de ju-jutsu praticados no século 19. Um desses estilos de ju-jutsu, chamado de Fusen-ryu ju-jutsu era uma escola diferênte, enfatizava a luta de chão (Ne Waza) que foi incorporado ao judô depois de uma grande derrota dos alunos de Jigoro Kano por volta de 1900 para praticantes do Fusen-ryu ju-jutsu do mestre Mataemon Tanabe. Nessa época, os alunos do Kodokan de Jigoro Kano superavam os praticantes de estilos tradicionais de ju-jutsu.
No final da década de 1890, apareceu em Tókio Mataemon Tanabe, um mestre de uma escola bastante diferente de Ju-Jutsu, a Fusen-Ryu. A Fusen-Ryu era especializada ne-waza, luta de solo. Ao enfrentar os melhores do Kodokan, Tanabe usou uma estratégia diferente das outras escolas que tentaram antes (e que não tinham muita luta de chão). Ele não tentava lutar com eles em pé, mas já trazia "para a guarda" (do-shime) e no chão finalizava-os com chaves nas articulações e estrangulamentos.No Fusen-ryu ju-jutsu o ponto forte era a finalização. Aparentemente, eles também já treinavam técnicas isoladas e randori, só que mais no chão.
Foram feitos vários desafios entre o Kodokan e a escola Fusen-ryu, e o resultado era sempre o mesmo. Tanabe finalizando alguns dos melhores lutadores do Kodokan, inclusive o célebre discípulo de Kano, Hajime Isogai, O Kodokan, exatamente na virada do século, entre um desafio e outro, pôs-se a praticar técnicas de chão intensamente, com o que tinham e com o que não tinham. O que tinham vinha das escolas Tenshin-Shinyo-Ryu e Kito-Ryu, e não dava para enfrentar a escola de Mataemon Tanabe.
Procuraram ajuda na escola Takenouchi-Ryu, que contava com um bom currículo de ne-waza, incluindo, além das chaves e estrangulamentos, o trabalho de imobilizações. O último combate entre Isogai e Tanabe terminou, finalmente, empatado.
Na verdade Mataemon foi um dos poucos a vencer confrontos com o Kodokan, em matéria de ne-waza não havia confiança suficiente para enfrenta-lo de igual para igual, foi aí que Kaishiro Samura, Oda Tsunetame, Hajime Izogai e Suiti Nagoóka, empenhados em sanar essa falha, conseguiram finalmente melhorar consideravelmente o judô nessa forma de luta, inclusive, num desafio que veio a ser efetuado em Okayama, terra de Tanabe, em 1899, Hajime Isogai, treinado por Kaishiro Samura (samura era originário do estilo Takenouchi-ryu ju-jutsu, no Kodokan era o melhor nessa forma de luta) dominou completamente Mataemon Tanabe que, sem outra alternativa, com a luta já perdida, foge ao combate de forma comprometedora.Entretanto, o arbitro Katarô Imai, mestre de kito-ryu ju-jutsu, contra tudo e contra todos, declara empate. Mas Jigoro Kano reconheceu que o eficiência da escola Fusen-ryu era o melhor para finalizações e convenceu Tanabe a ajudar a melhorar a parte de ne-waza do Kodokan. Algumas fontes dizem que Tanabe passou os antigos documentos técnicos da Escola Fusen-ryu ao Kodokan.
Jigoro Kano era uma figura muito importante no governo, ligado ao Ministério da Educação, e diversos mestres, de diversas escolas, aceitaram sua liderança, inclusive Tanabe, no livro Judo Kyohan, de Yokoyama, podemos ver Tanabe demonstrando algumas finalizações.
Foi assim que o ne-waza do judô se desenvolveu, através de desafios contra a escola de Fusen-ryu e com a ajuda da escola Takenouchi-ryu.
O Kosen Judô
Jigoro Kano inicialmente incentivou uso do Ne Waza nos clubes de judo de escolas e universidades, em razão de sua efetividade e por machucar menos os alunos. O treino de newasa era mais fácil a fim de permitir empates em campeoatos e encurtava o tempo de preparação de iniciante para campeonatos. Daí, técnicas como Hikikomi (posição quatro apoios) e Sankaku Jime serem populares e bem pesquisadas. KODOKAN ENTRA EM AÇÃO A eficiência, a efetividade e facilidade de aprendizado do Newasa por lutadores menores e mais fracos modificaram as competições de judô. Era mais fácil treinar um judoca em newasa para fazê-lo paralisar um judoca mais forte mais pesado de outra escola, então o Newasa passou a predominar no Kodokan.

Em 1914, no campeonato All Japan para escolas, realizado na Universidade de Kyoto, essa especialidade do Kodokan em Ne Waza foi chamada de "Kosen Judo". O Kosen é simplesmente um estilo do Kodokan Judo. O Kosen Judô tem as mesmas quedas e outras técnicas que o judô tradicional, mas com ênfase em newasa.(técnicas e luta no solo), como imobilizações, chaves e estrangulamentos. Este estilo de judô ainda é praticado nos tempos atuais. Os pequenos estudantes das Universidades Kosen eram comunente, dominados por oponentes maiores, já que não existiam categorias de peso no judô tradicional naquele tempo. Então era muito mais fácil para lutadores maiores e mais pesados derrubarem lutadores menores e mais leves. Essencialmente, o treinamento dos lutadores de Kosen eram as técnicas de newasa a fim de poder imobilizar, finalizar e escapar de imobilizações. O Kosen Judô Taiká era basicamente um campeonato baseado em disputa entre times.
A ênfase em Ne Waza, inicialmente vista com bons olhos por Kano, acabou predominando de tal forma na prática do judô durante as primeiras décadas do século 20, que Jigoro Kano passou a desestimular sua prática, sem contudo eliminá-la do curriculum da Kodokan em função de sua efetividade em combates reais. Foi devido ao sucesso dessa parte em competições, que Kano introduziu novas regras, limitando o tempo que o judoca poderia permanecer no chão. Foi determinado que as competições teriam e partir do Tachy-wasa (em pé) e se o competidor levasse o adversário mais de três vezes ao solo era declarado vencedor. Em 1914, Kano organizou o Torneio Entre universidades Kosen realizado na Universidade Imperial de Kioto. Este estilo esportivo de competição era chamado Kosen Taikai. Este estilo de Judô ainda é praticado em algumas universidades japonesas, em especial pelas sete ex-universidades imperiais do Japão. Este estilo é chamado de shichitei-judo (七帝柔道). Todo ano as sete Universidades realizam uma competição deste estilo.

Ao longo dos anos as regras do judô foram sendo alteradas visando desfavorescer o uso de Ne Waza em campeonatos, o que desestimulou seu ensino de um modo geral. Muitos, contudo, continuaram a praticar e desenvolver o Kosen Judo, especialmente no âmbito dos clubes de judô de universidades imperiais. Ainda hoje a prática do Kosen Judo existe no âmbito dessas universidades (ex. Kyoto) e em algumas academias isoladas, de acordo com o interesse do mestre nessas técnicas (que fazem parte do repertório do Kodokan). De um modo geral são menos praticadas pelos que enfatizam o treino para competição. Em 1925, Jigoro Kano decidiu redefinir as regras de competição do judô. Uma delas foi a de limitar ainda mais o tempo em que o atleta poderia gastar no chão. Isso, realmente veio a estacar tendência de predomínio das técnicas de newasa; mesmo assim, as escolas de Kosen continuaram pemitidas a treinar e competir do jeito eu já vinham fazendo desde o século anterior. Kosen Judô seguiu seu próprio destino e manteve as mesmas velhas regras de competição até os dias de hoje. Kano tomou o cuidado de não proibir as regras do Kosen ao introduzir novas mudanças. Ele assim procedeu por diversas razões:

1-Haviam, relativamente poucos judocas treinano apenas newasa;
2- Ele queria especialistas em newasa no Judô;
3-Ele não se convencia que fazer apenas newasa fosse ruim para o judô.
4-Os judocas do Kosen também praticavam Tachy-wasa, além do newasa.

Nage-wasa e Katame Wasa por Jigoro Kano.
Extraído do livro "Energia Física e Mental- escritos do fundador":
"Quando eu estava treinando, eu praticava muito Katame-wasa, mas depois comecei a gostar de nage-wasa, ao aprender o Kito-ryu, passei a crer que se deveria dar ênfase a nage-wasa nos aspectos técnicos do treinamento do judô. Isso não quer dizer que eu considere o Katame-wasa inútil, é claro, mas eu insisto na prática de nage-wasa no início, e só depois de Katame-wasa. Faço isso porque começar com Katame-wasa atrasa o progresso em nage-wasa, e é lógico que começar com nage-wasa faz com que seja mais fácil lembrar do Katamewasa em um estágio posterior. Quando criei o judô kodokan, estimulei a prática de nage-wasa por esta razão. Em resultado, nessa época um grande número de especialistas em nage-wasa se juntou a nós nos primeiros anos do Kodokan.
Pelo fato de termos enfatizado o nage-wasa, o Katame-wasa aos poucos foi deixado de lado. Por volta de 1887, mestres de várias escolas de todo país se reuniram no Departamento de Polícia Metropolitana de Tóquio. Entre eles havia especialistas em Katame-wasa. Ao competir com eles, os praticantes da Kodokan não tinham problemas ao usar o nage-wasa, mas inicialmente tiveram dificuldades ao usar o Katame-wasa. A mesma coisa aconteceu em várias competições realizadas na Kioto Butokukai, com especialistas em Katame-wasa de todo o país- os praticantes da Kodokan ganhavam com facilidade quando usavam nage-wasa, mas sentiam dificuldade com relação ao katame wasa, com o qual estavam menos familiarizados. Por esta razão, reforçamos a prática de Katame-wasa, na qual a Kodokan ganhou mais proeminência. Atualmente, a maioria dos praticantes da Kodokan pode confiar em sua técnica ontra qualquer oponente, seja usando nage-wasa ou Katame-wasa. Devo ressaltar, entretanto, que apesar de termos progredido na prática de Katame-wasa na Kodokan, nosso progresso em nage-wasa foi interrompido. Existe um limite para energia do ser humano e, quando se gasta muita energia em uma área, outra área é negligenciada- isso é inevitável. Por isso agora estou pensando seriamente no randori do futuro. Se Katame-wasa for praticado depois de se enfatizar nage-wasa, será possível que algumas pessoas desenvolvam grande habilidade em ambos. Porém como as pessoas normalmente não são excelentes em ambos, elas deveriam se concentrar no entendimento de nage-wasa, devotando menos energia ao katame-wasa. Os que têm interesse particular em Katame-wasa deveriam praticá-lo como forma principal. No futuro eu planejo usar essa estrutura ao dar instrunções.'
O Brazilian Jiu-jitsu
Dentre os alunos de Jigoro Kano do início do século 20 que dominavam as técnicas de Ne Waza oriundas do Fusen-ryu e Takenouchi-ryu ju-jutsu estavam Maeda, Tomita, Yokoyama e Yamashita. Maeda foi o Conde Koma, que viveu no Brasil entre 1914 e 1941, treinando membros da familia Gracie e também Luis Franca, mestre de Oswaldo Fadda, um nome influente mas menos conhecido do "jiu-jitsu brasileiro" (BJJ). Mitsuyo Maeda , conhecido como Conde Koma, foi um grande mestre de judô. Depois de percorrer vários países divulgando o judô, chegou ao Brasil em 1914 e fixou residência em Belém do Pará, existindo até hoje nessa cidade a Academia Conde Koma. Um ano depois, conheceu Gastão Gracie. Gastão era pai de oito filhos, sendo cinco homens, tornou-se entusiasta do Judô e levou seu filho Carlos Gracie para aprender a luta japonesa. Maeda conheceu Gastão devido a um desafio a um lutador do American Circus, Alfredi Leconte, o Hércules do circo, depois disso Maeda e Gastão ficaram muito amigos.
Pequeno e frágil por natureza, Carlos encontrou no “jiu-jitsu” o meio de realização pessoal que lhe faltava, descontando intervalos provocados pelas viagens do japonês, as aulas com Maeda duraram quase três anos, as aulas eram dadas em uma academia que maeda abriu em 1916,nos salões do Cine Teatro Moderno, localizado ao lado da Igreja de Nazaré, hoje uma praça, as aulas eram amplamente divulgadas nos ornais para quem quisesse aprender pagando.O primeiro aluno de Maeda foi o estivador Jacinto Ferro, ex-lutador de greco-romana, Jacinto foi instrutor de Maeda e ajudou a dar aulas para o Carlos Gracie.
Satake também abriu uma academia em 1916,em Manaus, o Luís França que formou o mestre Fadda, que foi o grande responssável pela divulgação do Brazilian Jiu-jitsu nos subúrbios do Rio de Janeiro, foi aluno de Satake e teve aulas com Maeda também.

Há alguns videos de Kosen Judo na internet onde é possível ver que as grandes "inovações" dos Gracies já eram conhecidas pelos Japoneses,isso em 1910 ,veja por exemplo a série Kosen Judo no Google-videos...

Judo Familia Fontes

Fonte: Elton Silva
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Shiro Saigo - Do Aikijutsu para o Judô KodoKan

sábado, 2 de outubro de 2010.
Kano e seus dicípulos. (Kano ao centro com Shiro Saigo a sua esquerda)
DO AIKIJUTSU AO JUDÔ KODOKAN

Em 1877, Saigo Tanomo Chikamasa apadrinhou Shida Shiro e o levou para Aizu para ensinar-lhe o Oshikiuchi. Após três anos de treinamento árduo, Shida mudou-se para Tóquio para ampliar sua educação. Em quanto estudando na Seiju Gakko (Escola Seiju), uma escola para exército pessoal, Shida inscreveu-se no Inoue Dojo do Tenshin Shin’yo-ryu em 1881. Dois anos mais tarde, Shida chamou a atenção de Jigoro Kano, que também era um discípulo do Tenshin Shin’yo-ryu. Kano estava neste tempo lutando para contruir uma reputação para o seu Kodokan Judô. Shida era abilidoso em combates corpo a corpo, assim convencendo Kano que seria uma boa idéia oferecer a Shida um posto de instrutor na Kodokan e Shida aceitou. Adiante casando com a filha de Saigo Tanomo em 1884, Shida se tornou o filho adotivo da família Saigo e desse modo mudando o seu nome para Shiro Saigo. Saigo foi uma força inspiracional nos primeiros dias da Kodokan. Ele tem sido imortalizado em livros, romances, filmes e até canções como Sugata Sanshiro.

Em 1886, quando a Kodokan adotou uma postura desafiadora contra os desafios lançados por escolas de Jujutsu, que procuravam destruir a Kodokan e ao presunçoso Kano junto com ela. Shiro Saigo demosntrou sua grande perícia usando a técnica Yama Arashi (Tempestade na Montanha), a qual é baseada nos princípios e técnicas do Oshikiuchi. Saigo decisivamentes derrotou todos que vieram e foi instrumental em fazer Kano e o Judô Kodokan famosos. Também em 1886 a Polícia Metropolitana de Tóquio realizou uma competição para escolher o sistema marcial que seria utilizado pela polícia. Representantes de Jujutsu, Kenjutsu e de diversos outros estilos de artes marciais se apresentaram para os combates. Entre eles estava o grupo do Mestre Hikosuke Totsuka, do Totsuka-Ha Yoshin Ryu, feroz adversário do Kodokan. Mestre Totsuka era considerado o maior Mestre de Jujutsu do último shogunato, anterior à Restauração Meiji. Mas todas as atenções se concentravam nos representantes do pequeno Dojô inaugurado a apenas quatro anos. No dia 11 de junho de 1886, no santuário Yayoi, os combates finalmente se desenrolaram. Lembramos que nessa época não havia ainda as regras competitivas, sendo cada combate uma luta total até que um deles não pudesse continuar. Tomita e Yamashita venceram suas lutas, enquanto Yokoyama empatava numa luta histórica que levou 55 minutos, sem pausa. Dos "Quatro Senhores Celestiais", faltava ainda Shiro Saigo. Ele enfrentou Entaro Ukiji, do Totsuka-Ha Shinto Ryu, um verdadeiro gigante frente ao diminuto Saigo. Quando a luta se iniciou, Saigo foi agarrado pelo kimono e lançado no ar. Para espanto da multidão, deu um giro completo e caiu em pé. Ele então agarrou Ukiji e o desequilibrou, girando-o num pequeno círculo. Era o lendário Yama Arashi ("Vento da Montanha"). Este era um golpe que somente Shiro Saigo conseguiu realizar perfeitamente e que segundo alguns autores era derivado do Aikijujutsu, sendo sua marca registrada. Seu oponente aterrissou com um estalo nas costas. Não satisfeito, levantou-se tonto e tentou atacar novamente Saigo, que terminou o serviço.Dos 15 combates disputados, o Kodokan venceu 12 lutas, empatou uma e perdeu 2. Kano apontou Shiro Saigo para ser diretor da Kodokan, enquanto ele estava na Europa em 1888. Esta responsabilidade trouxe com ela um aumento no remorso de Saigo, sobre lealdades conflitantes, pois ele devia muito ao seu patrocinador original e professor Saigo Tanomo e para Kano, que havia colocado tão grande confiança nele. Para resolver seu problema, Shiro Saigo deixou Tóquio para Nagasaki em 1891 e determinou-se a fazer de sua própria vida de maneira que estaria desacorrentado de débitos de lealdade para com ambos, Saigo e Kano. Ele abandonou o estudo de ambos Oshikiushi e Judô. Por volta de 1899, ele se tornou vice-presidente do Hinoda Newspaper Company em Kyushu e pelos próximos vinte anos até a sua morte, ele devotou a si mesmo interamente ao estudo do Kyujutsu (a arte do arco e flexa), finalmente atingindo o grau de Hanshi (professor mestre).

Por Elton Silva

Judo Familia Fontes
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Judo Tradicional (Texto adaptado por José Franco)

domingo, 19 de setembro de 2010.
Bem-vindo ao mundo do judô visto através de outros olhos!
(arvore do judo, ao lado)

Judo teve origem em 1882 por um japonês educacionalista que era na altura o mais famoso no Japão. Jigoro kano (1860-1938) treinou ju-jutsu em diversas escolas e estilos e através dos seus conhecimentos desta arte marcial dividiu um método seguro de pratica física, adicionando certos princípios e completando uma nova filosofia, fazendo do “do” um caminho, Jutsu significa arte, Kano Shihan queria que o seu judo fosse mais do que uma arte, fosse também um método de vida onde todos os judocas pudessem aprender auto-disciplina, psicologia, filosofia e educação em todos os aspectos. A educação para kano era “a comida da vida”. O kodokan foi fundado como instituição educacional, livre de interesses financeiros, com o objectivo de facilitar o estudo e a pratica do judo nos aspectos físico, mental e ético, elevando o judo como científico e progressivo na máxima da “máxima eficiência com esforço mínimo”. GUNJIN KOIZUMI 8ºdan (fundador da união europeia de judo) em “my study judo” Ao descrevermos o judo como desporto é o mesmo que descrevermos Michel Ângelo e Leonardo DA Vinci como pintor de casas e pedreiro. Para kano Shihan o judo era uma forma de educação para a vida. Foi bem ajustada ao dia a dia, enfrentando crises fora do tatami com igual determinação e habilidade mostrada dentro do tatami. Judo é uma vida de estudo do “dô” não começa apenas no início dos treinos e termina com estes, mas sim quando acordamos, durante o dia e até nos deitarmos. Como pensaria Jigoro kano do judo de hoje em dia? Respeitosamente, creio que infelizmente ele não o reconheceria, pois não é nada do que ele começou. Porquê? Existem muitas formas de responder a esta questão, mas vamos abordar algumas. Vencer a todo o custo sem a preocupação de aprender, preocupação material “medalhas”, custou a vida do “tradicional” judo. “A máxima eficiência com esforço mínimo”, foi trocada por muitas horas gastas em ginásios onde se cultiva a “ignorância” dos músculos, tendo sido esquecidos os ensinamentos fundamentais deixados por Kano Shihan. O Kata transformou-se numa pequena palavra lembrada apenas para fazer graduação. Judo é obviamente muito mais que isso, é aprendizagem, pratica, uchicomi(repetições), randori(treino combate),mundo waza( perguntas, leitura), e claro também SHIAI(competição). Shiai é a forma que os judocas têm de verificar a eficiência física e técnica em combate, experimentarem os conhecimentos adquiridos, deve ser visto como uma parte importante do judo, mas nunca apenas a ÚNICA! A parte principal do judo é formar pessoas com carácter, compaixão, não resistência, respeito, fisicamente mostrar-se capaz de ajudar os outros e contribuir para uma sociedade melhor. ”Elevação da arte para um principio”Jigoro Kano “No treino do judo é importante treinar o corpo e cultivar a mente através dos métodos de ataque e defesa e tornar estes os seus princípios, contribuindo através destes para a paz do mundo, sendo este o estudo principal do judo” Jigoro Kano.

Um pouco de História:

No Japão, nos tempos feudais, existiam guerreiros muito famosos, corajosos e fortes que eram os SAMURAI.

Quem eram os Samurais?

Os samurais foram os guerreiros do antigo Japão feudal. Existiram desde meados do século X até a era Meiji no século XIX. O nome "samurai" significa, em japonês, "aquele que serve". Portanto, sua maior função era servir, com total lealdade e empenho, os daimyo (senhores feudais) que os contratavam. Em troca disso recebiam privilégios terras e/ou pagamentos, que geralmente eram efectuados em arroz, numa medida denominada koku (200 litros). Tal relação de suserania e vassalagem era muito semelhante à da Europa medieval, entre os senhores feudais e os seus cavaleiros. Entretanto, o que mais difere os samurais de quaisquer outros guerreiros da antiguidade é o seu modo de encarar a vida e seu código de ética próprio.Inicialmente, os samurais eram apenas cobradores de impostos e servidores civis do império. Eram precisos homens fortes e qualificados para estabelecer a ordem e muitas vezes ir contra a vontade dos camponeses. Posteriormente, por volta do século X, foi oficializado o termo "samurai", e este ganhou uma série de novas funções, como a militar. Nessa época, qualquer cidadão podia tornar-se um samurai, bastando para isso adestrar-se nas artes marciais, manter uma reputação e ser habilidoso o suficiente para ser contratado por um senhor feudal. Assim foi até o xogunato dos Tokugawa, iniciado em 1603, quando a classe dos samurais passou a ser uma casta. Assim, o título de "samurai" começou a ser passado de pai para filho.Após tornar-se um bushi (guerreiro samurai), o cidadão e sua família ganhavam o privilégio do sobrenome.
Além disso, os samurais tinham o direito (e o dever) de carregar consigo um par de espadas à cintura, denominada "daishô" : um verdadeiro símbolo samurai. Era composto por uma espada pequena (wakizashi), cuja lâmina tinha aproximadamente 40 cm, e uma grande (katana), com lâmina de 60 cm. Todos os samurais dominavam o manejo do arco e flechas. Alguns usavam também bastões, lanças e outras armas mais exóticas.Eram chamados de ronin os samurais desempregados: aqueles que ainda não tinham um daimyo para servir ou quando o senhor dos mesmos morria ou era destituído do cargo.Os samurais obedeciam a um código de honra não-escrito denominado bushidô (caminho do guerreiro). Segundo esse código, os samurais não poderiam demonstrar medo ou cobardia diante de qualquer situação.
Havia uma máxima entre eles: a de que a vida é limitada, mas o nome e a honra podem durar para sempre.
Por causa disso, esses guerreiros prezavam a honra, a imagem pública e o nome de seus ancestrais acima de tudo, até da própria vida.
A morte, para o samurai, era um meio de perpetuar a sua existência.
Tal filosofia aumentava a eficiência e a não-hesitação em campos de batalha, o que veio a tornar o samurai, segundo alguns estudiosos, o mais letal de todos os guerreiros da antiguidade.
Talvez o que mais fascine os ocidentais no estudo desses lendários guerreiros é a determinação que eles tinham em freqüentemente escolher a própria morte ao invés do fracasso.
Se derrotados em batalha ou desgraçados por outra falha, a honra exigia o suicídio em um ritual denominado haraquiri ou seppuku.
Todavia, a morte não podia ser rápida ou indolor.
O samurai fincava a sua espada pequena no lado esquerdo do abdômen, cortando a região central do corpo, e terminava por puxar a lâmina para cima, o que provocava uma morte lenta e dolorosa que podia levar horas. Apesar disso o samurai devia demonstrar total autocontrole diante das testemunhas que assistiam o ritual.
A morte, nos campos de batalha, quase sempre era acompanhada de decapitação.
A cabeça do derrotado era como um troféu, uma prova de que ele realmente fora vencido.
Por causa disso, alguns samurais perfumavam seus elmos com incenso antes de partirem para a guerra, para que isso agradasse o eventual vencedor.
Samurais que matavam grandes generais eram recompensados pelos seus daimyo, que lhe davam terras e mais privilégios.
Ao tomar conhecimento desses fatos, os ocidentais geralmente avaliam os samurais apenas como guerreiros rudes e de hábitos grosseiros, o que não é verdade.
Os samurais destacaram-se também pela grande variedade de habilidades que apresentaram fora de combate.
Eles sabiam amar tanto as artes como a esgrima, e tinham a alfabetização como parte obrigatória do currículo.
Muitos eram exímios poetas, calígrafos, pintores e escultores.
Algumas formas de arte como o Ikebana (arte dos arranjos florais) e a Chanoyu (arte do chá) eram também consideradas artes marciais, pois treinavam a mente e as mãos do samurai.

Que ligação têm os Samurais ao Judo?

Os Samurai eram os maiores especialistas em técnicas de combate com e sem armas.
Cada clã tinha uma especialização das suas técnicas de combate.
Uns especializavam-se em arco e flecha (Kyudo), outros em lanças (Naginata), uns andavam a cavalo e outros a pé.
Duma forma geral, os Samurais preparavam-se para não morrer, pois normalmente num combate um dos combatentes não sobrevivia, então, além de serem especialistas no manuseamento de armas, estudavam as artes marciais, nas artes marciais, cada escola (ryu) tinha uma especialização (projecção, imobilização, estrangulamentos, chaves, socos, pontapés, etc) e a denominação comum e geral para cada Ryu (escola) era Jujutsu (Ju) suave (Jutsu) arte, ou seja, eram técnicas que não requeriam muita força.

Após a 2ª Guerra Mundial foram proibidos o uso e transporte das armas Samurai.
Como estas eram o símbolo máximo do Samurai e com a sua abolição, muitos Samurai, ficaram no desemprego e perderam os seus “Senhores”.
Para sobreviver, uns faziam demonstrações públicas, outros lutavam em troca de dinheiro, e com este cenário o Jujutsu ficou muita má reputação, foi considerado deselegante, rude e coisa do passado.

O que é o judo?

O JUDO é uma arte marcial de origem Japonesa.
Judo teve origem em 1882 por um japonês educacionalista que era na altura o mais famoso no Japão.

A palavra Judo traduzida para português significa “caminho suave” JU suave DÔ caminho, via.
Este “caminho” foi idealizado pelo criador do judo, como o caminho da vida!

Como Nasceu o Judo ?

O Dr. Jigoro Kano, fundador do judo, nasceu na cidade de Mikage na prefeitura de Hyogo, em 28 de Outubro de 1860.
Ele era baixo e fraco (falam de 1,58m e 50kg), era frequentemente alvo de agressões e foi com estas características que aos 17anos decidiu iniciar os seus estudos em Jujutsu.
Procurou vários mestres, e tentou convencer um Samurai a ensinar-lhe as suas técnicas, mas este recusou e disse a Kano que Jujutsu era coisa do passado.
Kano, absolutamente convicto continuou a procurar, até que um dia, Sensei Teinosuke Yagi era seu primeiro professor.
Aos 18 anos de idade entrou para o dojo de Tenshin-Shinyo ryu com Sensei Hachinosuke Fukuda, estudou a tradição de Kito ryu sob a orientação de Sensei Iikubo, este adoeceu e viria a morrer mais tarde e foi assim que Kano se apoderou dos seus DENSHO (livros secretos).
Continuou a estudar jujutsu com outros mestres e a meio dos seus vinte e poucos anos, Shihan Kano já conhecia alguns DENSHO (livros secretos) de algumas famosas Ryu (escolas).
Shihan Kano nunca viu as artes marciais como um meio indicador de força ou de superioridade física.Como um pacifista, estudou-os para encontrar uma maneira de viver na paz com outros seres humanos.
Em sua juventude Kano estudou Jujutsu sob um número de mestres diferentes, porém o estudo frequente de diversas escolas deixou-o em busca da perfeição, pois não conseguia encontrar em nenhuma das escolas onde aprendera ,essa perfeição.
A busca de Kano para um princípio unificado para as técnicas que aprendeu conduziu-lhe ao primeiro princípio do judo
Seiryoku Zenyo (eficiência máxima no uso da energia mental e física).
A ele, somente as técnicas que mantinham este princípio de gastar pouca energia física e mental deveriam ser incorporadas no seu sistema.
Ele acreditava que a energia de um oponente se deveria virar contra ele próprio.
Então, através do estudo continuado e compilado de todos os segredos, decidiu criar o seu próprio sistema ou arte (Ryu)
Para Kano, o seu novo sistema era mais que uma arte (jutsu), era a elevação da arte para um princípio, via ou caminho (do)
Este caminho seria o caminho na busca da perfeição técnico e pessoal (judo).
Para ensinar e Propagar a sua arte Kano fundou o Kodokan (a "escola para aprender a maneira") no templo de Eishoji em 1882.

Kano construiu o seu sistema em três bases principais de técnicas e considerou o "seu sistema" o mais eficaz de todos eles, este incluía os maiores segredos das escolas que estudara, como, projectar (nague waza), luta de controlo ( katame waza), golpear com o corpo (atemi waza).
Aproveitou apenas as técnicas mais eficazes.
Retirou as técnicas mais perigosas (para quem as executava), Kano através do seu estudo nas outras Ryu, encontrou técnicas que eram perigosas a quem as executava, que eram úteis em situação de guerra, porém ineficazes na aprendizagem do seu Sistema, e decidiu retirá-las ou alterá-las para o seu sistema.
Criou técnicas novas eficazes de acordo com o seu princípio
Adaptou as que aprendeu com os seus mestres e segredos.
Criou o judogui (fato judo), para uma prática mais segura e evitar as frequentes queimaduras sofridas durante o treino de jujutsu.
Decidiu acabar com a côr preta comummente usada no jujutsu, por o branco ser a côr que inspirava a paz, a pureza, e o dojo ser um local de procura pela “iluminação” espiritual.
Decidiu também que todos deveriam usar apenas o judogui, e retirar o Hakama (saia preta), porque o Hakama era um símbolo de Alta Classe Social, e na prática do judo, todos eram iguais, independentemente dos ideais ou classes sociais.
Criou uma forma estrutural e organizada de ensino de todas técnicas, e dividiu-a por classes e ordem de ensino.
Assim o seu sistema era dividido por secções e consistia numa lógica de ensino do mais fácil ao mais dificíl.
Criou o sistema de graduações Kyu e Dan (cintos abaixo cinto negro e negro)
Criou um código ético moral para todos os alunos e só aprendia judo, quem estivesse disposto a aceitá-lo.

Kano esperava que todos os instrutores e alunos no Kodokan fossem reconhecidos por exemplos de bom carácter, de conduta honesta, que fossem pacifistas e não se envolvessem em confrontos que desonrassem a escola.

Kano criou um sistema de ensino que acreditava contribuir para a Humanidade :

Randori (pratica e teste livre de todas as técnicas )
Kata (formas pré-definidas de defesa e ataque considerando os aspectos rituais e filosóficos da arte)
Ko (leitura sistemática, busca da intelectualidade herdada da classe bushi (guerreira) )
Mondo (períodos de pergunta e resposta, busca de soluções e aperfeiçoamento)

Quantos tipos de Judo existe, qual a diferença do judo na Academia Total Combat?

Nós ensinamos judo tradicional, marcial e não desportivo”
Na realidade judo tradicional, não existe é todo ele!Pois não são conhecidos mais de que um ryu (escolas), além do kodokan.Nós dizemo-nos tradicionais por nos diferenciarmos do "novo Kodokan", preservamos o "Antigo Kodokan", ou por outras palavras o "Kano Ryu."
Para perceberem melhor, aqui vou explicar brevemente as diferenças do "antigo" e "novo" kodokan.
Antes da 2ª guerra mundial o judo era ensinado como arte marcial, e no Kodokan ensinava-se a "verdadeira" arte criada por Jigoro Kano.
Com o inicio da guerra as altas patentes militares pediram a Jigoro kano, para que este ensinasse a sua arte aos militares, para a guerra, e este imediatamente, respondeu que NÃO, pois esse não era o propósito do Judo .Segundo este o Judo servia para preservar a PAZ e não o contrário.
Devido a esta atitude, o kodokan foi mandado encerrar e sensei Kano foi directamente falar com o imperador, e pedir-lhe para que este não utilizasse o"seu" kodokan, para ensinar militares.
O imperador por grande admiração a Kano, concordou, mas com uma resposta muito diplomática lhe disse:"sim, kano, enquanto fores vivo o kodokan não será utilizado",
Curiosamente Jigoro Kano morreu meses mais tarde, "supostamente"de pneumonia a bordo de um navio, quando regressava do Cairo de uma reunião do Comité Olímpico Internacional (interessantes são alguns relatos, que dizem que este nunca foi visto doente a bordo), curioso é também o facto de que logo após a sua morte o kodokan foi reaberto com autorização do governo( novo kodokan), mas apenas para ensino como modalidade desportiva.
Pouco foi o tempo depois para este se tornar "modalidade olímpica" e isto custou a (vida) do velho kodokan.O materialismo apoderou-se dos princípios, e o verdadeiro espírito e arte morreram.
FELIZMENTE, algumas das mais altas graduações do "velho sistema", insistiram em manter os princípios herdados por JIGORO KANO, e institucionalizaram-se sozinhos, apesar de se sentirem sempre um "alvo" a abater por grandes pressões politicas.
Foi desta forma que passaram a chamar o "velho sistema" de TRADICIONAL.Nos correntes dias não são apenas as altas graduações do velho SISTEMA a sofrer pressões,de qualquer tipo, mas somos todos nós, ditos tradicionalistas que renegamos a "lei do materialismo"e preservamos o BUDO como arte e disciplina.

O que vamos aprender no judo:

O judo é uma escola, porém uma escola diferente das normais, é uma escola da vida!

Nesta escola aprende-se a andar, cair, falar, ouvir, tocar, sentir e pensar.
Aprendemos tamben a ter disciplina e controlo de nós próprios.
Aprendemos a escolher o bem em vez do mal.
Aprendemos a respeitar os outros.
Vamos aprender a defendermo-nos, e aos outros.

Quanto a técnicas

Vamos aprender muitas formas de:

Projectar (mandar ao chão) com as mãos, pés, pernas e ancas.
Vamos aprender a dar ataques especiais com as mãos, pés, joelhos e pernas e cotovelos
Vamos aprender a imobilizar (segurar no chão) de muitas formas
Vamos aprender a fazer estrangulamentos no chão e em pé
Vamos aprender a fazer chaves (técnicas que partem os ossos) ás mãos, braços, pernas, pés e dedos
Técnicas de defesa pessoal
Técnicas de reanimação

José Franco
Pinguinhas2001@hotmail.com

Fonte: Por Elton Silva
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A ORIGEM DO NOME JUDO

sábado, 18 de setembro de 2010.
Em 1882 Kano abriu seu próprio Dojô, chamado Kodokan, onde ensinava uma variação moderna do Jujutsu que ele chamava Judô. A mudança do nome se devia ao fato de que Mestre Kano não queria que sua arte tivesse a conotação negativa conferida aos praticantes de Jujutsu, pois considerava repugnante a prostituição das artes marciais através de combates remunerados e desafios. Além disso a palavra "Do", caminho, era mais adequada aos seus objetivos: fazer do Judô um caminho, uma prática saudável para o corpo e para a mente e possível de ser praticado por homens e mulheres de qualquer idade. Em sua época era freqüente o número de acidentes sérios durante os treinos de Jujutsu. Jigoro Kano afirmou ainda que o têrmo escolhido, "judô", não havia sido criado por ele, mas era muito antigo, sendo utilizado pela escola Jikishin Ryu. Para diferenciar a sua arte ele a denominava "Kodokan Judô", nome pela qual ainda é conhecida.

Em 1898, em uma de suas conferências, Jigoro Kano, assim se pronunciou:
"Eu estudei jujutsu não somente porque o achei interessante, mas também, porque compreendi que seria o meio mais eficaz para a educação do físico e do espírito. Porém, era necessário aprimorar o velho jujutsu, para torná-lo acessível a todos, modificar seus objetivos que não eram voltados para a educação física ou para a moral, nem muito menos para a cultura intelectual. Por outro lado, como as escolas de jujutsu apesar de suas qualidades tinham muitos defeitos - concluí que era necessário reformular o jujutsu mesmo como arte de combate. Quando comecei a ensinar o jujutsu estava caindo em descrédito. Alguns mestres desta arte ganhavam a vida organizando espetáculos entre seus alunos, por meio de lutas, cobrando daqueles que quisessem assistir. Outros se prestavam a ser artistas da luta junto com profissionais de sumô. Tais práticas degradantes prostituíam uma arte marcial e isso me era repugnante. Eis a razão de ter evitado o termo jujutsu e adotado o do judô. E para distinguí-lo da academia Jikishin Ryu, que também empregava o termo judô, denominei a minha escola de Judô Kodokan, apesar de soar um pouco longo."

Não se sabe muito do Jikishin Ryu, e suspeita-se que é uma variação de estilo precursor do Shirai ou Negishi Ryu, ou até do Kashima Shinto Ryu, pois seu método consiste em posicionar o pé direito um passo à frente para lançar a lâmina. A principal diferença está no modo de segurar a lâmina.Os três dedos menores ficam dobrados, enquanto o dedo indicador aponta à frente, como se fizesse uma forma de "revólver" com a mão. A lâmina fica na sua parte interna e o polegar aplica uma leve pressão de cima pra baixo, mantendo-a firme sobre o dedo médio dobrado, e segurando a ponta oposta para baixo quando a lâmina deixa a mão. O indicador então repousa na lateral da lâmina, dando suporte. O lançamento é feito simplesmente levantando-se e abaixando-se o braço a partir da lateral, enquanto um passo à frente é dado. O braço corta como se fosse uma espada.


Evolução dos estilos e Sub-estilos do Ju-Jutsu



Tai-Jutsu, Hakashu-Jutsu, Tori-Jutsu, Tori-Te-Jutsu, Koshi-No-Ma-Wari-Jutsu, Nin-Jutsu, Shubaku-Jutsu, Kogu-Jutsu, Shime-Jutsu, Wa-Jutsu, Yawara-Jutsu, Na-Kuda-Jutsu, Jikishin-Jutsu, Ten-Shin-Jutsu, Goshin-Jutsu, Te-Jutsu, Kempo-Jutsu, Bo-Jutsu, Ai-Jutsu, Shobu-Shin-Ryu-Jutsu, Kendô-Jutsu, Shira-Uchi-Ryu-Jutsu, Get-Ryu-Jutsu, Tebacu-Jutsu, Take-Uchi-Ryu-Jitsu, Yoshin-Ryu-Jitsu, Sekigushi-Jitsu, Arata-Jitsu, Shishindo-Jitsu, Kisy-Ryu-Jutsu, Daito-Ryu-Jutsu, Kogusoko-Jutsu, Kito-Ryu-Jutsu, Tenshin-Shinyo-Ryu-Jutsu, Ryshinto-Ryu-Jutsu, Takenouchirya-Kiraku-Jutsu, Sinoshindo-Jutsu.
Obs. Take-Uchi-Ryu-Jutsu – Supostamente a mais antiga escola de Ju-Jutsu do Japão, fundada por Miura-Yoshin.
Obs. Kito-Ryu-ju-jutsu - Sistema de onde vieram as principais artes marciais que hoje conhecemos, nela estudou Jigorô Kanô, Morihei Ueshiba e Terada. Nesse sistema, além do Randori (乱取り), já havia treinamentos de Katá. Ele era constituído por excelente sistema de arremessos (naguê-waza), luta no chão (ne-waza) e golpes traumáticos (Atemi-waza). Essa escola, Kito-Ryu, era a mais famosa e temida do Japão feudal.
Veremos, agora, quais as artes marciais que hoje conhecemos e que tiveram as suas origens nesta escola.
1640 – Funkundo e Terada: Kempô-jutsu-karatê
1882 – Jigorô Kanô: Judô
1922 – Morihei Ueshiba: Aikidô

Fonte: Goshinjutsukan
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